João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Capa Meu Diário Textos Áudios Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos
Pra não dizer que não falei do Grêmio

Uma leitora me cobrou por meus textos estarem muito grandes e tratando de temas abstratos, coisas de fora da realidade local. “Porque não fala do Grêmio, por exemplo?” Pensei no comentário dela e resolvi escrever sobre o Grêmio mantendo o tamanho do artigo. Porque o Tricolor da Azenha, ou melhor, o Tricolor do Humaitá não vem rendendo o esperado, mesmo com um plantel muito bom?

Em primeiro lugar, penso no futebol de hoje exatamente como o Juremir Machado da Silva: paixão para os torcedores, emprego para os jogadores e negócio para dirigentes, empresários e imprensa. E estamos seguindo hoje o modelo europeu de gestão do futebol, isto é, um esporte cada vez menos popular, destinado à classe média, que pode pagar ingresso caro, mensalidades de sócio e TV por assinatura para assistir jogos, cada vez mais ausentes da TV aberta, destinada ao povão.

O Grêmio vem acompanhando essa lógica. A Arena (foto acima) é a parte bem sucedida desse projeto. O problema é que quem pensou esse Grêmio do novo tempo foi o ex-presidente Paulo Odone, não reeleito no ano passado. A oposição alçou mão do prestígio de Fábio Koff e a parte da torcida que é sócia comprou a ideia, sonhando com as glórias do passado, todas gestadas na “Era Olímpico Monumental”. Assim, o Tricolor está num descompasso administrativo.

Podemos ver isso em várias situações da gestão de Koff. Em primeiro lugar, na famosa frase “a Arena não é do Grêmio”. Depois, no conflito com a torcida Geral do Grêmio, toda uma sorte de fatos que colocaram inclusive em dúvida a efetivação do espaço aberto para a mesma na Arena, destinado a famosa “avalanche”, uma marca da torcida. O último ato dessa relação conflituosa com a torcida organizada foi a postura da direção ante a agressão, por soldados da Brigada Militar, a um torcedor símbolo da Geral: lavou as mãos. A Geral do Grêmio é um símbolo do “renascimento” do clube após a queda para a segunda divisão e tem em Odone um apoiador de primeira hora.

Outro indicador do descompasso foi a questão Vanderlei Luxemburgo. Contratado ainda na gestão de Odone, o treinador, um dos melhores currículos do futebol brasileiro, veio para ser o “Técnico da Era Arena”. Começou um trabalho em 2012 que garantiu para o Imortal vaga direta para a Libertadores da América de 2013, após um significativo terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, competição na qual é especialista. Logo, criou uma grande expectativa para o ano seguinte. Sua permanência foi uma exigência pública da torcida, manifesta no estádio e nas redes sociais.

Fragilizado pelo fracasso na Libertadores e inicialmente patinando no Brasileirão de 2013, Luxemburgo foi demitido durante a parada do campeonato para a realização da Copa das Confederações. Para seu lugar veio Renato Portaluppi. O problema é que o time foi concebido pelo ex-técnico com Odone e depois reconfigurado por ele e Koff. E as equipes montadas por Luxemburgo tem a característica da frieza e da qualidade técnica, tipo típico daquelas que vão bem ao longo do Brasileiro. Logo, não deu outra: o time passou a render menos sobre o comando de Renato, um bom treinador, mas com uma concepção de time diferente da do seu antecessor.

O Grêmio de hoje parece não sentir diferença entre ganhar por 0x3 do Fluminense no Rio de Janeiro ou perder de 0x1 para o Coritiba na Arena. Gélido e profissional. Um grupo muito bom, competente. O problema é o descompasso entre treinador e presidente com a torcida organizada, com o novo estádio e com esse grupo de jogadores em 2013. Ao fim, ainda vai se concluir que o erro de 2012 foi não reeleger Odone e o de 2013 foi a demissão equivocada e inoportuna de Luxemburgo. E, para tais erros, agora, não haverá concerto. Resta torcer.

Texto publicado na seção de Opinião do Jornal Portal de Notícias.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 14/08/2013
Comentários