Uma leitora me cobrou por meus textos estarem muito grandes e tratando de temas abstratos, coisas de fora da realidade local. “Porque não fala do Grêmio, por exemplo?” Pensei no comentário dela e resolvi escrever sobre o Grêmio mantendo o tamanho do artigo. Porque o Tricolor da Azenha, ou melhor, o Tricolor do Humaitá não vem rendendo o esperado, mesmo com um plantel muito bom?
Em primeiro lugar, penso no futebol de hoje exatamente como o Juremir Machado da Silva: paixão para os torcedores, emprego para os jogadores e negócio para dirigentes, empresários e imprensa. E estamos seguindo hoje o modelo europeu de gestão do futebol, isto é, um esporte cada vez menos popular, destinado à classe média, que pode pagar ingresso caro, mensalidades de sócio e TV por assinatura para assistir jogos, cada vez mais ausentes da TV aberta, destinada ao povão.
O Grêmio vem acompanhando essa lógica. A Arena (foto acima) é a parte bem sucedida desse projeto. O problema é que quem pensou esse Grêmio do novo tempo foi o ex-presidente Paulo Odone, não reeleito no ano passado. A oposição alçou mão do prestígio de Fábio Koff e a parte da torcida que é sócia comprou a ideia, sonhando com as glórias do passado, todas gestadas na “Era Olímpico Monumental”. Assim, o Tricolor está num descompasso administrativo.
Podemos ver isso em várias situações da gestão de Koff. Em primeiro lugar, na famosa frase “a Arena não é do Grêmio”. Depois, no conflito com a torcida Geral do Grêmio, toda uma sorte de fatos que colocaram inclusive em dúvida a efetivação do espaço aberto para a mesma na Arena, destinado a famosa “avalanche”, uma marca da torcida. O último ato dessa relação conflituosa com a torcida organizada foi a postura da direção ante a agressão, por soldados da Brigada Militar, a um torcedor símbolo da Geral: lavou as mãos. A Geral do Grêmio é um símbolo do “renascimento” do clube após a queda para a segunda divisão e tem em Odone um apoiador de primeira hora.
Outro indicador do descompasso foi a questão Vanderlei Luxemburgo. Contratado ainda na gestão de Odone, o treinador, um dos melhores currículos do futebol brasileiro, veio para ser o “Técnico da Era Arena”. Começou um trabalho em 2012 que garantiu para o Imortal vaga direta para a Libertadores da América de 2013, após um significativo terceiro lugar no Campeonato Brasileiro, competição na qual é especialista. Logo, criou uma grande expectativa para o ano seguinte. Sua permanência foi uma exigência pública da torcida, manifesta no estádio e nas redes sociais.
Fragilizado pelo fracasso na Libertadores e inicialmente patinando no Brasileirão de 2013, Luxemburgo foi demitido durante a parada do campeonato para a realização da Copa das Confederações. Para seu lugar veio Renato Portaluppi. O problema é que o time foi concebido pelo ex-técnico com Odone e depois reconfigurado por ele e Koff. E as equipes montadas por Luxemburgo tem a característica da frieza e da qualidade técnica, tipo típico daquelas que vão bem ao longo do Brasileiro. Logo, não deu outra: o time passou a render menos sobre o comando de Renato, um bom treinador, mas com uma concepção de time diferente da do seu antecessor.
O Grêmio de hoje parece não sentir diferença entre ganhar por 0x3 do Fluminense no Rio de Janeiro ou perder de 0x1 para o Coritiba na Arena. Gélido e profissional. Um grupo muito bom, competente. O problema é o descompasso entre treinador e presidente com a torcida organizada, com o novo estádio e com esse grupo de jogadores em 2013. Ao fim, ainda vai se concluir que o erro de 2012 foi não reeleger Odone e o de 2013 foi a demissão equivocada e inoportuna de Luxemburgo. E, para tais erros, agora, não haverá concerto. Resta torcer.
Texto publicado na seção de Opinião do Jornal Portal de Notícias.