No último dia 24 um grande amigo meu estaria completando 64 anos. É o segundo aniversário dele sem ele. Um grande amigo. Ele gostava de dizer: “Não sei se tu é meu irmão mais novo ou se eu é que sou teu irmão mais velho”. Um afeto recíproco.
Amigos (as). Tem uma passagem do livro Grande Sertão: Veredas, de Guimarães Rosa, que gosto muito e que até remete ao que escrevi no parágrafo anterior. Diardorim chega para Riobaldo e fala que a amizade deles era tanta que faria gosto que fossem parentes. Riobaldo disse que preferia a amizade, pois parente é o marcado e amigo o escolhido.
Não sei se a gente escolhe os amigos. Escolhemos? Ou eles se apresentam na nossa vida e a gente simplesmente os aceita? Escolher é isso? Pois não basta “escolher” os amigos, eles tem de “escolher” a gente também. Já os parentes a gente não escolhe mesmo, mas pai, mãe e demais familiares são de uma importância muito grande em nossas vidas, pelo menos na minha são.
Esse meu amigo era uma pessoa ímpar que, além do afeto, tinha a minha admiração e respeito. Éramos amigos de ideal e de luta e também amigos por si só. Partilhamos muitas coisas e momentos. Apartamo-nos da convivência por um bom tempo, mas quando a vida nos colocou frente a frente de novo, a amizade e a intimidade permaneciam intactas, era como se tivéssemos nos visto no dia anterior.
Quis o destino que nosso reencontro se desse no final da vida dele. E eu estava lá, ao seu lado, nos seus últimos momentos por aqui. E isso foi uma grande dor, mas também um imenso privilégio. E digo que ele vai estar comigo nos meus últimos dias também, pois estará ainda no meu pensamento e no meu coração, mesmo que eu viva mais uns sessenta anos (minha tia-avó e madrinha tem 101!).
Amigos (as) são assim, não é mesmo? A gente os tem, todos, na cabeça e no coração, sempre. Não tem como ser diferente. E tem uma coisa que acho estranho nisso: as amizades serem para sempre e o afeto dos casamentos não. Estranho não é mesmo? Ficarmos com uma pessoa anos, dividindo lençóis, alegrias e tristezas e, depois, restar somente mágoa ou indiferença. Vejo isso por aí e acho tão estranho.
Seguindo adiante nesse raciocínio, tenho uma conhecida que disse namorar os seus amigos por pura amizade. Eu discordei, disse que para mim amiga é amiga e namorada é namorada. Partiu pro namoro, estraga a amizade. Ele me chamou de antiquado e disse que com ela não acontecia isso. Desconfio que ela seja uma grande mentirosa. Todavia é o que ela pensa e afirma viver.
Será então que é a intimidade física, o sexo, que praticamente inviabiliza a possibilidade de amizade pós-casamento? Tipo assim: “conheceu” (no sentido bíblico da palavra) outra pessoa, fica difícil ter só amizade a partir daí? A perda da posse física, talvez mal resolvida de um lado, inviabiliza a continuidade da relação em outros termos?
Amigos (as). O meu amigo com certeza estaria rindo agora dos parágrafos anteriores e talvez falasse uma de suas grandes frases, tipo: “Pra homem sem vergonha, todo mundo é amigo dele”.
Escrevi esse artigo online, no Facebook. Algumas pessoas comentaram. “Amigo é tudo” – Cristine Diogo. “(...) é aquela pessoa que realmente quer o nosso bem, tem sintonia com a nossa energia, tem sensibilidade para chegar e te corrigir, amparar, proteger, andar ao teu lado muitas vezes até sem dizer nada, mas está lá. Um anjo aqui na terra” – Gilvana Ávila. “(...) são pessoas que muitas vezes do nada surgem em nossas vidas e, muitas vezes sem nenhuma razão plausível, somos atraídos como ímãs, (...), simplesmente acontece, e mesmo separados a ligação continua, podem passar anos e anos, quando reencontramos um amigo, parece que a separação foi ontem...” – Rosa Melchiors. "Acho que amigo é alguém que combina com a gente. São almas que se entendem independente das diferenças" - Marli Ubatuba.