Foto - Foto: Germano Roratto / Especial - jornal Zero Hora
O que dizer numa hora dessas?
Se você não vai falar nada de útil num momento de necessidade, então fique quieto, pois quem não ajuda, numa hora dessas, atrapalha e tumultua. Em determinadas situações, como nessa tragédia ocorrida numa casa noturna na cidade gaúcha de Santa Maria, a última coisa que se precisa é de palpiteiros, curiosos e oportunistas.
Assim que soube por um amigo do fato, liguei a TV, o rádio e acessei a Internet a fim de conferir a dimensão do problema, incrédulo. Os helicópteros não paravam de sobrevoar a cidade onde moro, Charqueadas, conduzindo vítimas para hospitais em Porto Alegre. Não lembrava de nada igual ter acontecido no Rio Grande do Sul. Pudera, não há precedentes.
Tais acontecimentos tocam as pessoas em todo o mundo: até hoje lembram o naufrágio do Titanic ou a queda do avião uruguaio nos Andes, por exemplo. Somos todos seres humanos e temos a noção do que essas tragédias representam de horror e dor para as vítimas e demais pessoas envolvidas. Para a população da mesma cidade, da mesma região e do mesmo país essa comoção coletiva é mais aguda. Você percebe um pouco isso nas mídias tradicionais, como TV e rádio, mas é nas redes sociais da Internet onde vê os cidadãos se expressando das mais diversas formas ante um fato social como esse.
No Facebook vi usuários postando fotos do interior da casa noturna, expondo os corpos das vítimas. Qual é a utilidade disso? Nenhuma. Piora tudo, pois as pessoas que acessam uma rede social em busca de informação de parentes e deparam com uma imagem dessas ficam fragilizadas, por certo. Nem se fala então de gente que, não consigo imaginar com que espírito, ainda consegue fazer piada sobre uma situação dessas! É muito autismo social.
De positivo vemos também pessoas compartilhando avisos de utilidade pública de ordem variada, manifestando pesar e dando bons conselhos. Como um estudante de General Câmara, que instigou alguns cristãos a orar em favor das vítimas e familiares ao invés de ficar postando peças moralistas e acusatórias na rede social, ainda no início dos acontecimentos.
E quem escreve? No que pode ser útil num momento como esse? Eu, por exemplo, tenho dificuldade de falar algo em velórios, visto que nessas horas de fato consumado as palavras perdem sentido, como disse o Fabrício Carpinejar num texto publicada no Facebook sobre o tema. Difícil saber o que dizer, o que escrever. Aliás, Carpinejar cumpriu a função social de dizer algo relevante, reconfortante e, portanto, útil para as pessoas como eu que, mesmo não atingidas direta ou indiretamente, ficam consternadas com um horror sem precedentes e de tal dimensão envolvendo jovens, na maioria universitários “com a vida toda ainda pela frente” – como comumente se diz. Fora isso entendo que a gente deve poupar as pessoas de escritos sem utilidade e, o pior de tudo, meramente oportunistas, feitos só para aproveitar o fato a fim de se colocar na arena midiática.
Só estou escrevendo esse texto para lamentar o ocorrido, manifestar minha consternação e dizer: não é momento para palavras e letras inúteis. As autoridades e os meios de comunicação já vão esmiuçar a tragédia com o cuidado e a profundidade necessárias a fim de apurar responsabilidades e tirar as dolorosas lições desta, referentes ao uso de fogos de pirotecnia em ambientes fechados (uma causa comum em acidentes desse tipo ocorridos em outros países), a normas de segurança destes e a fiscalização efetiva do poder público em relação a tais normas.
Não sejamos nós mais um daqueles curiosos que, ao ver um acidente, vai para a volta para ficar só olhando e fazendo comentários inúteis.
Texto publicado na seção de opinião do jornal Portal de Notícias:
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