João Adolfo Guerreiro
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Textos
Para gostar de ler o velho Braga

Crônica, um gênero literário essencialmente jornalístico que eu comecei a apreciar nos anos 1970 através dos livrinhos da coleção Para Gostar de Ler, da Editora Ática. Na mítica coleção, que podemos encontrar facilmente em qualquer biblioteca pública ou escolar e que ainda é publicada pela editora (embora ela tenha, a partir de 2009, alterado os desenhos das famosas capas), os primeiros números eram de crônicas escritas por Fernando Sabino, Paulo Mendes Campos, Carlos Drummond de Andrade e Rubem Braga. Deste último, falecido em 1990, comemoramos, em 2013, o aniversário do nascimento, ocorrido no último dia 12.

Considerado o maior cronista brasileiro (e vejam que temos Machado de Assim no páreo!), o velho Braga, como era conhecido, foi um grande nome de nossa literatura que se dedicou exclusivamente ao gênero considerado “menor” por 62 anos, escrevendo aproximadamente 15 mil crônicas na imprensa e em livros. Eu fui apresentado ao mesmo em Para Gostar de Ler, em alegre bate papo com os outros autores. Sim, porque a crônica é isso, leve, rápida, uma conversa ente amigos. E eu me tornei “amigo” de todos eles. Li todos os primeiros números da coleção, tive o privilégio de “conversar” com eles em manhãs de sol e de chuva, em tardes quentes de ócio e em noites refrescantes. Consequentemente me tornei um apaixonado por esse gênero, leitor incondicional de jornais e, principalmente, de seus cronistas.

E grandes escritores se dedicam a crônica mostrando que, se o gênero é “menor”, o importante é o prazer que ele proporciona. Nada mais crônica do que escrever uma coisa dessas! Eu, particularmente, sou daqueles que considera o gênero algo “maior”, pois não é qualquer um que consegue escrever bem crônicas. Assim como poesia, romance, conto, etc. Geralmente os escritores são bons e se tornam célebres como autores de um gênero, em dois no máximo.

E o velho Braga é reconhecido como grande escritor brasileiro e só fez crônica a vida inteira. Além dos deliciosos livros da Para Gostar de Ler, tem outro que se chama “50 crônicas escolhidas”, lançado em 2011 pela Edições BestBolso, que você encontra nas livrarias por menos de 15 reais. Esse livro é uma versão resumida do “200 crônicas escolhidas”, lançado em 1977 pela Editora Record, escolha feita pelo autor a partir de uma seleção prévia realizada pelo amigo Fernando Sabino. O “200” vai ser relançado em março pela Record, juntamente com outros livros do e sobre o cronista, além de publicações inéditas. Afinal, já disse, são 15 mil crônicas, né gente!

Para instigar vocês, dois trechos curtos da crônica Uma Certa Americana, que tem no “50”: “Muito me inibia o cortante nome de Hélice, minha ternura no Natal de 1944 durante a guerra, na Itália. Hélice era como ela pronunciava e queria que eu pronunciasse o seu nome de Alice. Como era enfermeira e tinha divisa de tenente...” (...) “...apenas guardei uma lembrança um pouco amarga daquele Natal distante. Santo Deus, mais de 20 anos! Feliz Natal onde estiveres, Hélice ingrata”. Ficaram curiosos para saber o que aconteceu entre os parênteses?

Na ZH de sábado tem textos muito bons sobre o centenário do Rubem Braga e sobre a história da crônica como gênero literário, no caderno Cultura. Se não acharem mais essa edição, pois o jornal é, assim como a crônica, sua filha, algo efêmero, então faça como eu, conheça o Rubem Braga e dê dois dedos de prosa com ele num dos livros recomendados acima, principalmente se quiserem mesmo saber o que aconteceu entre o velho Braga e a “Hélice”. Vale a pena, vale muito a pena. Eu aprecio muito!


Texto publicado na seção de opinião do jornal Portal de Notícias em 15/01/2013
http://www.portaldenoticias.com.br/Colunas/jo%E3o/Para%20gostar%20de%20ler%20o%20velho%20Braga.htm
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 14/01/2013
Alterado em 18/01/2013
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