O último Grenal no Olímpico
No domingo foi realizado o último jogo no Estádio Olímpico Monumental, do Grêmio Foot-Ball Porto Alegrense. Aos 58 anos, o grande palco gaúcho do esporte bretão encerrou sua vida útil para a modalidade com um “Clássico GreNal” (Grêmio x Internacional), um dos mais disputados do e$porte profi$$ional brasileiro, em partida válida pela última rodada do Campeonato Brasileiro de 2012.
Muitos cientistas sociais se interessam por futebol, seja para analisá-lo ou para torcer, no último caso, como parte integrante dessa “paixão nacional”. Esporte que se estruturou no Brasil no início do século XX, por influência inglesa (vários clubes nacionais à época constituídos, como Grêmio e Inter, trazem a grafia inglesa no nome) e como esporte da elite social. Popularizou-se nas décadas seguintes, constituindo-se como importante fator de sociabilidade nacional e regional.
O “Tricolor Gaúcho” já teve outro estádio, o Fortim da Baixada, também na capital, no bairro Moinhos de Vento, construído em 1904. Agora seguirá para o Humaitá, saindo da Azenha, para seu novo endereço: a Arena Grêmio. O Olímpico também foi, pode-se dizer, dois estádios: o Olímpico, inaugurado em 1954, no jogo Grêmio 2x0 Nacional (Uruguai), e o ampliado em 1980, o Olímpico Monumental, com a construção de seu anel superior.
O futebol se confunde com a história do Século XX, é fruto desse período histórico e teve o seu apogeu mundial com a instituição da Copa do Mundo, evento organizado pela Federação Internacional de Futebol – FIFA a cada quatro anos desde 1930. Por isso tudo hoje, além de um interessantíssimo objeto de estudo social, o futebol é também um grande negócio, um grande fato econômico.
É como espaço físico internacional integrante desse contexto histórico-social mundial que devemos olhar para a desativação e posterior demolição do Olímpico Monumental, assim como, há pouco tempo, aconteceu com o Estádio dos Eucaliptos, do Inter, esse já desativado há décadas e que foi uma das sedes da Copa do Mundo de 1950, realizada no Brasil. O jogo de domingo, seja qual tenha sido o seu resultado (estou escrevendo esse artigo antes da partida), é só um dos marcos simbólicos dessa ampla totalidade.
De tão envolvidos com algo esquecemos o que ele é na sua essência. Temos que ter um olhar de estranhamento para a nossa própria cultura para melhor entendê-la, como postula a antropologia. Realizar também uma abordagem metodológica que leve em conta o que é objetivo e o que é subjetivo em cada fato social, pois a sociologia não tem como ser uma ciência neutra, somente objetiva na medida do possível, pois o sujeito que analisa faz também parte do objeto de sua investigação.
Uma das boas definições sobre o futebol encontrei numa crônica do escritor gaúcho Juremir Machado da Silva: “É paixão para o torcedor, profi$$ão para os jogadores [eu acrescentaria aqui os jornalistas] e negócio para dirigentes e empresários”. Para os cientistas sociais (sociólogos, antropólogos e cientistas políticos), um amplo e multifacetado objeto de estudos, que possibilita ir da análise da sociedade até a própria validade epistemológica das ciências sociais via a percepção das condições subjetivas da sua produção.
Outra definição que gosto é a do jornalista Milton Neves: “O futebol é a coisa mais importante dentre as menos importantes”. Muito lúcido. As dezenas de milhares de pessoas que ontem se debruçaram sobre o último jogo no Olímpico Monumental talvez tenham uma opinião diferente. Todavia, o show vai continuar no mundo do futebol profi$$ional. A apresentação da cantora internacional Madonna dia 09 no Olímpico (de fato a última atividade de massa que nele será realizada) é, a esse respeito, emblemática.
(Ah, espero que o Grêmio tenha vencido o GreNal. Sonhei que seria ser 2x1 pra nós...)
Publicado no Jornal Portal de Notícias dia 04 de dezembro de 2012.http://www.portaldenoticias.com.br