As redes sociais da Internet tem se constituído no novo umbral das eleições municipais. Em eleições marcadas pela ausência ou exiguidade de debates entre os candidatos a prefeito, a esperança era que as redes pudessem cumprir um papel importante na discussão de ideias e projetos. Nesse caso, a esperança foi a primeira a morrer.
Em contraste com a maioria dos usuários, que firmemente manifestaram seu desacordo e desconforto com a propaganda política em sites como o Facebook, apoiadores de candidatos a prefeito o infestaram com “fakes” (identidades secretas virtuais) e participaram do processo eleitoral de forma pouco construtiva, a maioria como ninjas virtuais do vitupério político.
O festival de ataques pessoais e grosserias desses cyber pistoleiros, dirigidas aos candidatos a vereador e prefeito adversários e, também, entre si mesmos, tirou qualquer ilusão referente a uma possível participação qualificada no debate eleitoral que se centrasse nos problemas da cidade e nos projetos pertinentes à solução dos mesmos.
Nova face (?) dos divulgadores de boatos e dos panfletos anônimos de antanho, os fakes do Facebook em 2012, assim como os do Orkut em 2008, são a maior prova de que as estruturas tradicionais da política, os partidos, tem uma visão das redes sociais como “panfleto eletrônico”, ao invés de um espaço social virtual livre e democrático, de controle descentralizado e horizontal. Logo, a disputa nas redes sociais continuou sendo “sobre” os eleitores e não “entre” esses. Uma pena, uma outra grande oportunidade foi perdida. “Ainda somos os mesmos e vivemos como nosso pais”–escreveu Belchior e cantou Elis Regina.
A fé cega no valor revolucionário da tecnologia, dogma atávico na sociedade industrial, também é posto em cheque. A Internet como instrumento de fomento de transformações sócio-políticas (como, por exemplo, a Primavera Árabe e os atuais protestos populares na Europa) mostra os seus limites ante a força das instituições verticalizadas e burocráticas que gerem o poder (governos, parlamentos, judiciário, partidos, sindicatos, grande mídia, etc.), revelando sua verdadeira essência: mera ferramenta que pode também ser utilizada de forma antidemocrática e sectária. “Você que tem ideias tão modernas, é o mesmo homem que vivia nas cavernas” – Humberto Gessinger.
Eric Hobsbawm escreveu em Era dos Extremos – O breve século XX que “ao contrário do ‘longo século XIX’, que foi um período de progresso material, intelectual e moral quase ininterrupto, quer dizer, de melhoria nas condições de vida civilizada, houve, a partir de 1914, uma acentuada regressão dos padrões então tidos como normais nos países desenvolvidos e nos ambientes de classe média e que todos acreditavam piamente estivessem se espalhando para regiões mais atrasadas e para as camadas menos esclarecidas da população” (p.22). Parece que a análise sombria do recentemente falecido historiador inglês sobre o século XX se aplica sobre o XXI: evolução tecnológica, involução humana.
Ou o bullyng eleitoral virtual nos leva a concluir o quê, enquanto exemplo de indicador do nosso nível de sociabilidade humana? Se o homem é um animal político, logo as relações políticas travadas em sociedade podem ser um parâmetro de avaliação, principalmente as localizadas no seio de sua tecnologia de ponta, que liga os indivíduos em redes virtuais de socialização pública.