João Adolfo Guerreiro
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Foto - Teatro União, o segundo construído no RS.


A "triunfalização" da política?



Se há um estigma que Triunfo infelizmente consolidou no imaginário do Rio Grande é a da cidade da transgressão política. Saiu na imprensa estadual algo sobre farra de diárias de vereadores, acusações de compra de votos, nepotismo, intervenções judiciais devido a irregularidades no processo eleitoral, lá está Triunfo, seguidamente, citada.

Uma lástima isso, em se tratando de um município histórico, cenário do filme Neto Perde A Sua Alma, com prédios referenciais de arquitetura açoriana como o Teatro União e a Igreja Bom Jesus, local de nascimento do grande político Bento Gonçalves dos Santos, do dramaturgo Qorpo Santo, sede de um portento econômico estadual - o Pólo Petroquímico e situado próximo à região onde são mais belas as margens do Rio Jacuí.

Recentemente até uma matéria citando a discrepância do fraco desenvolvimento humano na cidade em comparação com a farta arrecadação foi veiculada. E uma coisa, claro, tem tudo a ver com a outra. O que corrompe não é o que falta, mas o que sobra, disse a poetiza Rosilane Rocha. E se uma cidade está nesse pé, não podemos culpar sua classe política apenas. Cada povo tem o governo que merece, pois é a imagem dele que reflete o espelho da vontade democrática das urnas.

Óbvio que não podemos generalizar, colocando todos os cidadãos e políticos da cidade num mesmo quadro, mas também não podemos tapar os olhos ao concluir, ante os fatos seguidamente noticiados, que há algo apodrecendo na cidade de Triunfo: a consciência política e democrática de parcela considerável de seus cidadãos, sejam ou não membros da classe política da cidade.

E esse processo não ocorre, na região, só em Triunfo. Ali é onde ele é mais visível por ser superlativo. Mas a cidade de Charqueadas também está no mesmo processo há tempos. A cidade dos presídios, do aço, do carvão e do Pólo Naval está a passos largos rumo a “triunfalização” de sua política: eleições cada vez menos programáticas para o Executivo e o Legislativo, mas sim um mero enfrentamento político calcado no uso da máquina, do dinheiro, do assistencialismo e do clientelismo. E uma comparação entre as cidades passa a cair muito bem, pois tem um número de eleitores bem próximo e passarão a ter arrecadações análogas, muito acima da média das cidades de mesmo porte.

Um fato que devemos levar em conta ao compararmos o processo de degradação são as grandes votações para o Legislativo e o que elas podem indicar. Notem que em Triunfo um vereador tem de ficar na casa dos novecentos a mil votos para se eleger. O menos votado em 2012 fez 500. Em Charqueadas, o processo é semelhante, mas apenas um vereador fez votação na casa do milhar, alguns na dos setecentos e, a maioria dos eleitos, na dos quinhentos votos. As últimas eleitas ficaram na casa dos 300 votos.
O que isso nos informa: que os vereadores precisam cada vez de mais votos para se elegerem devido a força eleitoral de suas ideologias ou a práticas clientelistas e assistencialistas, à medida que a arrecadação do município cresce e a representação política se mercantiliza? Fique cada um com a sua conclusão referente a cada vereador eleito que conhece, mas o fato é que os políticos de idéias e projetos, ideológicos, estão cada vez mais desprestigiados em detrimento dos que mantém relação de “serviço” com seus eleitores, em qualquer âmbito da esfera legislativa brasileira, principalmente nas municipais.

Se não podemos falar de uma “triunfalização” pejorativa da política, visto o fenômeno não ser específico de um município apenas, infelizmente não podemos deixar de mencionar o notório exemplo de tal processo a fim de mostrar que o fenômeno está a se espalhar por outras cidades.


Artigo publicado hoje no Jornal Portal de Noticias. (http://www.portaldenoticias.com.br)


João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 23/10/2012
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