Atentem para um fato muito importante: em 2016, quando terminar a administração municipal que será eleita dia 7 de outubro, Charqueadas já não será mais a mesma que hoje vemos. Se essa previsão de 6.000 empregos diretos a serem gerados pelo Polo Naval corresponder à realidade futura, teremos um aspecto positivo do desenvolvimento econômico e tecnológico concomitante a uma hecatombe demográfica. E aqui nem estamos falando de desenvolvimento sustentável, mas sim de desenvolvimento social.
No mínimo o dobro de gente virá para cá nos próximos anos. E grande parte dessas pessoas que virão atrás do “eldorado “de oportunidades com certeza sobrarão no mercado de trabalho por falta de qualificação. Se levarmos em conta o que aconteceu em Triunfo com o Polo Petroquímico, podemos antever que os melhores postos de trabalho não serão preenchidos pelos residentes na cidade. E o que faremos à respeito? Estamos realmente preparados para isso e pensando nisso?
E estamos falando de uma cidade que hoje, além de não tratar dos esgotos, tem um modelo que saneamento já obsoleto para a demanda da cidade e que vive dando problema (principalmente em dias de chuva forte), obrigando nos últimos anos o poder público a realizar reparos abrindo enormes crateras nas vias públicas onde o esgoto central passa.
Estamos falando de uma cidade que, hoje, tem um hospital devidamente reformado, mas que não tem médicos em número suficiente. Em 2016, com o grande aumento demográfico a pressionar o insuficiente sistema de saúde, como ficaremos? E não adiante pedir socorro na cidade vizinha, pois a situação dela é semelhante, o hospital de lá também não tem médicos em número suficiente, até porque o problema dos médicos não irem mais para o interior é um problema do estado que repercute na imprensa estadual. Se em 2012 já estamos assim, em 2016 estaremos assados!
E o trânsito? Esse famoso traço cultural charqueadense de seu povo andar na rua e as calçadas serem intransitáveis é fruto da cidade ter crescido sem o devido preparo nos ciclos do carvão e metal mecânico, ficando uma cidade esquizofrênica, com capacidade industrial de cidade grande e com planta baixa de favela. Como o desenvolvimento não foi pensado, não houve estrutura prévia gestada num planejamento urbano e a urbe foi crescendo no improviso, ficando toda mal desenhada, um mosaico de bairros desconexos e amontoados aos lados de uma autoestrada estadual e junto ao rio. Imaginem então um aumento demográfico e a sua decorrente ampliação do número de carros numa cidade sem calçadas e praticamente sem ciclovias?
E a segurança pública? E a educação? Não pensem que essa hecatombe demográfica não vá gerar periferias de excluídos na cidade que, justo por não termos nos preparado para incluí-los, possivelmente engordarão as estatísticas de criminalidade da qual a exclusão é o terreno fértil e, igualmente, pressionarão o sistema de ensino.
Conseguem imaginar tudo isso? Podem até preferir nem imaginar! Mas os futuros vereadores e o futuro prefeito, mais que imaginar, tem de ter soluções prévias para isso. E o momento de apresentá-las é agora! Caso contrário, Charqueadas corre o risco de ter dado o passo maior que a perna e, no curto prazo, sem o devido planejamento, rasgar as calças e as cuecas!
Terça que vem finalizo essa série de artigos, relacionando a pressão sobre a estrutura da cidade a um possível e utópico desenvolvimento sustentável.