Foto - cena do filme Diário de um Jornalista Bêbado
Polo Naval e Desenvolvimento Sustentável – final
Inicio este último artigo sobre o tema citando novamente o doutor em Sociologia Pedro de Assis Ribeiro de Oliveira: “A sustentabilidade só se tornaria possível caso suprimisse o crescimento. O problema é que não há capitalismo sem crescimento. Este é o verdadeiro beco sem saída onde nos encontramos”. Realmente, como imaginar uma sociedade sem crescimento? Sem progresso? Sem desenvolvimento? E, assim, como sair do beco sem saída? Seria com pensar na volta ao mundo anterior à sociedade industrial.
Ernest Gellner (1983) já demonstrou que o “espírito” de nossa sociedade industrial é o crescimento permanente, de outra forma ela não se reproduz enquanto modelo. É o mundo que surgiu do racionalismo liberal burguês de abrangência filosófica, politica e econômica que engendrou a Revolução Francesa e a Revolução Industrial, fatos históricos determinantes da sociedade atual.
E Charqueadas está nesse mundo. E o Polo Naval aqui vem como fruto desse “espírito”. E como já vimos que sustentabilidade e crescimento são antagônicos, o que podemos fazer é minorar os futuros efeitos corrosivos sobre o meio ambiente, buscando uma utopia possível de desenvolvimento sustentável para a cidade: “O desenvolvimento sustentável é um conceito ideológico – no mau sentido da palavra: não é possível desenvolvimento – pelo menos na medida em que o desenvolvimento implique produção de bens materiais. Assim, governos, empresas e a sociedade civil interessados em aumentar sua riqueza apenas usam o discurso da sustentabilidade para posar como politicamente corretos” – Pedro Oliveira.
Sobre tais efeitos futuros, podemos citar uma pequena passagens expressa no artigo Polo Naval do Rio Grande: potencialidades, fragilidades e a questão da migração, dos professores de Economia da URFGS e da FURG Flávio Tosi Feijó e Danielle Trindade Madono: “Impactos ambientais - como toda atividade industrial de grande porte, há de preocupar-se com a geração de futuros danos ao meio ambiente. Domingues (2009, p. 319), atenta para os custos ambientais, derivados do crescimento desordenado da cidade, à medida que ramos industriais, tais como química, metalurgia, papel e celulose têm maior potencial de contaminação hídrica, atmosférica e de solos”.
Logo, o desenvolvimento sustentável é uma utopia por ser apenas uma ideologia, mas o danos ambientais serão uma realidade concreta. Assim, a preocupação com uma “redução de danos” ambientais deve ser a tônica dos anos vindouros e a Secretaria Municipal do Meio Ambiente vai ter de estar atenta e qualificada para tal.
Quanto ao desenvolvimento social, humano, temos possibilidade de realizar ações concretas, tarefa precípua dos futuros parlamentares e prefeito. Como disse com pertinência o editorial do Portal de Notícias de 24 de agosto, O Preço de um Desafio: “O impacto econômico, social e, por consequência, cultural que, à priori, podemos vislumbrar em pouco mais de três anos, que poderá ser gerado pela plena produção do Polo Naval do Jacuí certamente será ainda maior do que a chegada da metalurgia aqui. Precisamos pensar em construir estruturas sólidas em áreas que serão vitais para que possamos usufruir plenamente dos benefícios que essa nova realidade econômica regional poderá nos proporcionar. Educação, saúde, mobilidade urbana, segurança não poderão mais ter o tratamento que hoje lhes são atribuídos regionalmente. Não podemos continuar com a visão que hoje temos de suas dinâmicas”.
“Sabem o preço de tudo e o valor de nada” – disse o personagem Paul Kemp (citando Oscar Wilde) no filme Diário de um Jornalista Bêbado, se referindo a cegueira social e ambiental dos cínicos homens de negócio em Porto Rico. Não sejamos nós a cair novamente nesse erro, repetindo os erros do passado cometidos nos ciclos anteriores de desenvolvimento econômico e tecnológico de Charqueadas.
Artigo publicado no Jornal Portal de Notícias de 25/09/2012