João Adolfo Guerreiro
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A bicicleta e a mobilidade urbana

O modelo carrocêntrico de mobilidade urbana está esgotado. Fato. As cidades estão com as ruas congestionadas, tal qual um organismo com artérias entupidas por excesso de gorduras e triglicerídeos. Isso, os carros são as gorduras e os triglicerídeos das cidades! O carro, meio de transporte cada vez mais individual, consome muita energia, polui o meio ambiente e, o ponto central, ocupa muito espaço público e emperra a mobilidade urbana.

Na Europa isso já foi diagnosticado. Cada vez mais regiões urbanas são vedadas a circulação de carros particulares e o transporte público é priorizado. Dentre eles, a bicicleta. Ela mesmo, a bike, a magrela, o camelo, até a cacocleta recauchutada. Cidades como Berlin, na Alemanha, para citar um exemplo, possui 775 quilômetros de ciclovias, além de um sistema público de empréstimo de bicicletas para as pessoas se locomoverem pela cidade, existindo vários pontos onde as mesmas podem ser estacionadas. E muitos dos locais de trabalho contam com chuveiros e armários para as pessoas realizarem sua higiene pessoal antes do serviço, se necessário. Coisa de primeiro mundo a bicicleta. Bike in, car out!

Isso prova que o carro, se não é um luxo, tampouco é uma necessidade. O carro é um conforto que as pessoas, depois de utilizarem, não querem mais abrir mão. É como o sujeito que gosta de ficar só à sombra, na boa, comendo de tudo. É um conforto, é legal, mas não é saudável.

Em Charqueadas temos uma ciclovia de 1.8 km, paralela a ERS 401. Não tenho informação de ciclovia em outra cidade da região. Participei de algumas reuniões na Câmara de Vereadores de Charqueadas onde o debate sobre a ampliação da ciclovia, até a empresa GKN ou mesmo até a entrada dos presídios, por um lado, e até o Hospital, por outro, foi cogitada. O debate não avançou para a readequação das vias públicas visando abrir mais espaço para os ciclistas em termos de tráfego e de estacionamento.
Eu iria mais longe: uma ciclovia unindo os cerca de 10 km entre os municípios de Charqueadas e São Jerônimo seria um grande avanço para nossa região. Sonho? Sim, mas o sonho é a matéria que, condensada, cria o futuro. Cada vez mais o trânsito é agressivo, aumentam os mortos e feridos em acidentes. Uma ciclovia iluminada, com passarelas em pontos estratégicos, seria uma revolução em termos de mobilidade urbana intra e intermunicipal.

Para isso, porém, o próprio ciclista tem de se tornar... Ciclista! Não basta apenas andar de bicicleta por aí. O ciclista tem de se assumir como tal, como usuário responsável de um veículo integrado ao tráfego, respeitando as leis do Código de Trânsito para a bicicleta e demais veículos. Bicicletas sinalizadas, principalmente para o uso noturno, é um ponto. Não andar na contramão e tampouco sobre as calçadas, outro. E também respeitar a prioridade do pedestre na faixa de segurança, coisa que os ciclistas em sua maioria ignoram.

A priorização do transporte público está no horizonte próximo, as cidades começam a se adequar ao mesmo. Este debate está na ordem do dia. E a bicicleta está entre as alternativas mais saudáveis e ecologicamente corretas para a mobilidade urbana. Mais amor, menos motor, mais bicicleta!


Texto publicado no Jornal Portal de Notícias nesta terça, 31.07.12
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 31/07/2012
Alterado em 31/07/2012
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