Política sob, entre ou sobre as pessoas?
Numa campanha eleitoral conferimos o estágio da política de uma cidade, de um estado, de um país. A forma como determinada classe política realiza a campanha mostra a sua natureza verdadeira, o seu modo de fazer política. E a política, em relação à sociedade civil, às pessoas, ocorre sob, entre ou sobre as mesmas.
A política que acontece sob as pessoas, numa eleição, é a que elas não percebem, mas que forma o jogo eleitoral. É o submundo da campanha, o oculto, os acertos e atos secretos gestados nos subterrâneos da política. E quem faz uma campanha sob as pessoas, fará uma administração com essa característica. Quem é ou foi militante político-partidário sabe muito bem disso, conhece os meandros que separam o que é do que aparenta.
A política ocorre mais sobre as pessoas e a campanha mostra isso claramente. Eleição é proselitismo puro, é disputa de posição entre adversários visando o objetivo principal, ou seja, a hegemonia no poder público, especificamente no Executivo e Legislativo. Nesse ponto a política fica igual à religião, uma conquista de consciências para a verdade particular de cada grupo envolvido.
Por isso os comícios se parecem bastante com os atos públicos religiosos: a verdade brandida em alto som juntamente com a crítica ao mal, encarnado, no caso da política, no adversário. E daí é claro que ou você está do lado da verdade ou não está, o que te torna um infiel, condenado as trevas. A sociedade é objeto e vítima da política, nunca sujeito ou cúmplice. A classe política se volta por sobre a sociedade visando cooptá-la, prática que se estenderá no futuro governo. A agressão acústica massiva, sistemática e monocórdia por meio de carros de som e foguetes simbolizam à perfeição essa política de ocupação eleitoral.
Assim podemos entender porque acontecem tantas brigas numa campanha. É, praticamente, uma cruzada religiosa! Mas realizada por bolcheviques sem alma e, pior, sem ideologia, nesses tempos pragmáticos que atravessamos.
Uma campanha entre as pessoas será voltada para o debate e para a construção coletiva, entre classe política e sociedade civil, dos planos de governo dos diferentes segmentos partidários. Toda a campanha eleitoral que ocorra em grande parte entre as pessoas aponta para um governo análogo. Um governo democrático, participativo, civilizado, que terá sempre o objetivo maior de produzir consensos em vez de impor políticas públicas particulares sobre a sociedade. Será a prevalência da mão estendida sobre o umbigo e o punho fechado.
Repito: nunca se enganem, a cara de uma campanha revela a natureza do futuro governo. Não esperem que gavião vire pomba. Tem asa, voa, mas é predador!
As eleições municipais em curso são um ótimo palco para observarmos bem isso tudo, pois a realidade das cidades é menos complexa que a de um estado ou pais e, também, é a que os cidadãos conhecem melhor. Ora, a gente vive, concretamente, nas cidades e, diz o ditado, quem mora na aldeia conhece os caboclos.
Aproveitem a oportunidade. A política majoritariamente feita entre as pessoas é quase uma utopia idealista, todavia o amadurecimento da classe política e da sociedade civil é um processo que, se iniciado, engatinhará rumo a uma democracia mais avançada no que tange a interação qualificada entre as pessoas.
Artigo publicado ontem no Jornal Portal de Notícias
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 25/07/2012
Alterado em 25/07/2012