Foto - Capa do CD Encanto da Terra 2007 - desde então a mostra de música foi abandonada pela prefeitura.
Cultura para a estrutura!
O filósofo-político e economista alemão Karl Marx, teórico mor do comunismo (que seria a superação do capitalismo), analisou a economia de sua época no obra O Capital. Basicamente, o marxismo pós-Marx, em sua visão “reducionista”, coloca o centro da sociedade, a sua “estrutura”, na dimensão econômica do social. E o que vemos no capitalismo global e financeiro de hoje? Que o $ é cada vez mais a lógica que move o mundo, as decisões de governo priorizam o econômico em detrimento do social. Como diria o escritor uruguaio Eduardo Galeano, as pessoas existem em função das coisas, quando deveria ser o contrário.
Tá, e a cultura, onde entra nisso? Nem entra! É acessório...
A cultura está como subproduto do $, ligada ao entretenimento, ao show business da “indústria cultural”, para referenciarmos um conceito clássico da Escola de Frankfurt, onde autores de inspiração marxista como Adorno e Horkeimer superaram o marxismo economicista, colocando a importância da questão cultural no estudo das sociedades, e não apenas como fenômeno da “estrutura” econômica, como mera “superestrutura” ideológica dela decorrente.
Pois vejam que o capitalismo atual está na prática aferroado ao que há de mais atrasado e anacrônico no marxismo, o economicismo! Ah, os paradoxos, tão irônicos! Logo, a cultura em cidades como Charqueadas está imbuída dessa lógica, que permeia o mundo. Charqueadas está no mundo e o mundo condiciona-a.
Cultura em Charqueadas enquanto investimento público é: Carnaval, Rodeio e Gincana, praticamente atrulhados no mês de março. E a Semana Farroupilha, em setembro. E só. E, levando em conta que Carnaval e 20 de Setembro são coisas que toda a cidade faz, sobram somente o Rodeio e a Gincana como investimentos culturais específicos da cidade. E ao falar nisso estamos nos referindo aos dois atuais candidatos a prefeito, pois a atual administração e a de 2001/2004 nada acrescentaram ao modelo. Fizeram bons rodeios, é verdade. Mas nem só de churrasco e bom chimarrão vive o homem e tampouco a cultura de uma cidade. Gaúchos todos somos! E a cultura charqueadense?
O Conselho Municipal de Cultura foi criado nos anos 90. A Lei da Agenda Cultural, de 2006, ficou a ver navios fantasmas naufragarem no Rio Jacuí: dos quatorze eventos da mesma, apenas cinco (aí incluídos Carnaval, Rodeio, Gincana e Semana Farroupilha) aconteceram anualmente. A Mostra de Música, que divulgava o trabalho dos músicos e compositores, foi silenciada. A Mostra Literária foi apagada. Só para citar dois dos outros nove eventos da Agenda, pois que estes tem inclusive seleção de obras artísticas feitas pela prefeitura, porém não gravadas nem publicadas! No lugar dos eventos da Agenda, a prefeitura tem feito uma mostra de artes denominada CharQartes, em outubro, evento da Educação que une vários segmentos culturais, um modelo parecido com o antigo Flecha, um festival de artes estudantil que era promovido pela SMED. Os equipamentos culturais seguem na mesma linha. Biblioteca Municipal, Memorial ao Mineiro e Museu (MAHC) são obras de outra gestão, e a Casa de Cultura jaz em ossos a céu aberto, ali no Parcão, morta na casca pelas balas perdidas das brigas políticas, oh coitada! Temos o Fundo Municipal de Cultura, que está liberando verba para produtores culturais locais de forma individual e coletiva, mas que, mesmo assim, enfrentou vários problemas no início da atual gestão.
Conclusão: falta cultura para a estrutura! É ver agora os programas de governo e crer que os mesmos não sejam cultura inútil na administração vindoura a ser eleita
Texto publicado hoje no Jornal Portal de Notícias