PEDALANDO POR AÍ..

Dia da criança, 07:30, saio de casa com minha bici de Charqueadas, a princípio pra percorrer ida e volta 22km de faixa pela RS 401 até a BR 290, em Eldorado do Sul. Desconfio do vento e da cara de chuva.
Mas a sensação de liberdade que o pedalar dá toma conta, o vento já não é um obstáculo a ser considerado. Aliás, se pegar à direita na BR, indo para Arroio dos Ratos, será vento a favor, penso comigo.
Paro no posto de pedágio de Eldorado. Vejo um bicicleta pra lá de estranha escorada na parede. Entro lá e está um ciclista "fardado" dentro, o nome dele é Gracha, é de Butiá. Muito acessível, educado, gente boa. Engatamos um papo. Me conta sobre competições e outros assuntos de interesse, muitas dicas, pergunta pelos ciclistas de Charqueadas. Está ali esperando dois ciclistas que estão vindo de Porto Alegre para irem até General Câmara. Vão pedalar bastante os caras, mas são profi eles, percebo de cara.
Chegam os amigos do Gracha. Trevisan e Rubens. O primeiro já pedalou numa prova Audax de 1200 KM nos EUA, o segundo um Audax de 1600 na Itália. Fotografo as bicicletas deles, muito legais. A do Rubens me chama a atenção, verde, com uma pinha 16 somente. A do Gracha é artesanal, ele a pedala deitado, os pedais ficam na frente, na altura do guidão. Simpático, me oferece pra dar uma volta. Prefiro não, vai eu caio com a bici do cara, seria vergonhoso. Eles me convidam pra eu participar de um Audax de 200 km uma hora dessas, dizem que é legal, que a minha bici customizada dá, que a prova é de 13 horas e que com um média de velocidade bem tranquila se percorre o trecho numa boa. Tiram um sarro do meu capacete rosa. Já estou acostumado com isso, comprei ele porque era o último da loja e eu queria fazer um passeio noturno e era obrigatório capacete. Não comprei outro ainda e nem vou pintar o capacete, deixa ele assim. Mas que o pessoal estranha, estranha. Devem ter achado que sou gay. Eh eh eh eh, nada contra os gays, né.
Ganhei uns quarenta minutos ali no posto de pedágio com os caras, foi muito instrutivo. Eles entram na RS pra Charqueadas, eu sigo pra Ratos pela BR. Realmente, vento a favor, a bici desliza no asfalto.
Os cerca de 20 Km até Ratos curiosamente parecem mais longos, como vou parando pelo caminho pra tirar umas fotos. Muito movimento nessa faixa, mesmo no feriado, muito caminhão. Chego em Ratos. Já são 50 KM percorridos por uma estrada que eu praticamente desconhecia, pois vou a Ratos sempre "por dentro", isto é, pela estrada de chão entre ela e Charqueadas. Legal descobrir novos trajetos.
Tiro umas fotos no centro da cidade, esta uma velha conhecida minha. Como um enroladinho num bar em frente a prefeitura, onde uns veteranos jogam conversa fora. Tudo gente boa pelo jeito, pessoal gentil.
Corto a cidade rumo a estrada de chão batido pra Charqueadas.
Dou uma paradinha no famoso (aqui na região) cemitério de Ratos, que fica bem na confluência das "estradas internas" que vão pra Charqueadas e São Jerônimo. Já estou pra sair e vejo um coroa se chegando pra perto de mim. Estranho um pouco. Mas o cara só queria papo. Seu nome é Roberto, 66 anos, conversamos. Uma pessoa simples, temente a Deus. Fala que muita gente que ele amou está enterrada ali, seus pais e três irmãs. Ele era o segundo mais novo, e tem mais irmãos vivos. Despeço-me dele. Do bem o Roberto, fiquei com uma boa impressão dele.
A conhecida estrada de chão batido está em bom estado, mas esse é o trecho que sinto mais do que esperava, não sei se pela distância já percorrida ou se pelo fim da comodidade do vento a favor e do asfalto liso. Talvez tudo. Diminuo o ritmo, vou apreciando as fazendas, o mato, a poeira dos raros carros que passam enquanto pedalo.
Após 70 KM e 890 metros e 06 horas de um cicloturismo leve e revigorante, chego em casa, às 13h 20min. Ainda deu pra comprar uma galinha assada para o almoço no caminho.

Foto - Rubens, Graxa e Trevisan


Eu com a bicicleta do Graxa