Acidentes de trânsito em Charqueadas e a quantidade de carros
Na quarta-feira passada (dia 6) aconteceu algo insólito em minha biografia: presenciei dois acidentes de trânsito em minha cidade, num intervalo de alguns minutos, na avenida mais movimentada do centro, a Bento Gonçalves.
Buenas, eu nunca havia visto dois acidentes no mesmo dia!
Eram 17 horas e eu caminhava pela rua Distrito Federal e fiz a curva para entrar na Bento Gonçalves. Ouvi um estrondo e olhei pra frente: vi o motoqueiro caindo de lado e o carro com a lateral amassada. Pelo que percebi, um senhor de idade que estava na calçada manobrou pra atravessar a avenida e não viu o motoqueiro que surgiu após a curva bem próxima.
Um monte de pessoas já se aglomerou, preocupadas com o motoqueiro, mas pelo jeito dele vi que não devia ser nada de grave. Ele tirou o capacete e eu o reconheci, era um capitão da Brigada Militar da cidade. Estava lúcido e apenas preocupado com a dor que sentia na perna.
Algumas mulheres bem intencionadas cheias de preocupação davam vários conselhos a ele: "- Deita moço, não se mexe, espera a ambulância." Ele apenas falava que estava tudo bem e ligou para uma viatura pelo seu celular.
Buenas, nessas horas se a gente não vai ajudar, vai atrapalhar, e eu segui meu caminho rumo a rodoviária, onde buscaria o meu celular que eu havia esquecido num táxi.
Na volta, uns quinze minutos depois, estou saindo da avenida 1º de Maio e entrando novamente na Bento e daí testemunho o outro acidente. Uma mulher está saindo do posto de gasolina pela Bento e dá uma parada no carro antes. Um caminhão que vinha saindo de ré atrás dela entra com a carroceria no vidro traseiro do veículo dela.
Dois acidentes, uns vinte metros um do outro.
Não era nada de grave, só danos materiais e susto. Continuei meu caminho e ao passar pelo primeiro acidente, onde uma ambulância já estava recolhendo o capitão, avisei os brigadianos, que já haviam chegado pra atender a ocorrência do colega deles, do outro acidente.
Depois fiquei a pensar sobre o inusitado dos fatos para mim e o significado social deles. Uma única conclusão: é muito veículo na cidade! Fato comum em todo o Brasil.
Eu não tenho carro por opção, caminho, ando de bicicleta e de transporte coletivo (ônibus, táxi, metrô). Meus colegas até brincam comigo e falam: "- Mas carro hoje é uma nescessidade João!" Sempre retruco: "- Não, carro é um luxo com o qual as pessoas se acostumam e não conseguem viver sem. Eu nunca tive carro e nem porisso deixei alguma vez de ir a um lugar em que precisasse ou desejasse." E é verdade.
Aprendi que a gente vive bem com muito pouco, muita coisa em que as pessoas se apegam e com as quais gastam um bom dinheiro na verdade não são esenciais. Eu, até uns três anos atrás, não tinha celular. Telefone residencial eu mandei cortar. E assim por diante. Prefiro usar meu dinheiro pra curtir a vida com lazer, sem ter muitos dispêndios fixos agregados ao orçamento. Nem internet eu tenho em casa, uso somente em lans. E, creiam, vivo bem, saudável e feliz. Não sinto falta de nada.
Mas a verdade é que o pessoal anda comprando carro adoidado! Nunca vi tanto carro como nesses últimos anos em Charqueadas, uma cidade de 35 mil habitantes há 56KM da capital do Estado. Daí os acidentes proliferam... principalmente envolvendo a gurizada embriagada e de pé pesado que azucrina o que dá nas noites de fim de semana e feriados.
Nos acidentes que presenciei, alguns detalhes sintomáticos.
O senhor de idade que atravessa o carro na rua! Vejo muito disso.
Os motoqueiros, os mais imprudentes dos condutores de veículos no trânsito. Se metem em qualquer brecha que percebem! No caso o cara até não teve culpa, foi o senhor que não o viu e fechou a sua frente.
Os caminhoneiros, categoria onde encontramos os tipos mais provalecidos que trafegam pelas ruas.
Ao abrir o jornal Zero Hora hoje pela manhã, deparo com a matéria de duas páginas: "Ruas cheias e carros vazios" - 2/3 dos carros só tem um passageiro. Também sintomático. Mas isso sempre foi assim...
Desde que me conheço por gente, sempre vi pessoas andando sozinhas de carro na maior parte das vezes. Todavia, o número de cidadãos que possuiam carro era bem menor. E também o múmero de pessoas era bem menor. Daí as ruas e avenidas davam conta do recado. Hoje, são artérias entupidas!!!
A matéria do jornal defendia que as pessoas dessem mais corona, tal como na Europa, onde essa prática é incentivada pelo governo e se aplica principalmente a colegas de serviço. Dizia um pedaço da matéria que acho interessante reproduzir aqui:
"Ônibus perderam 20% dos usuários
Na Europa, há políticas oficiais para estimular os carros a andar cheios. Foram instituídas pistas exclusivas para os veículos de alta ocupação. Na Califórnia (EUA), essa pistas existem há 40 anos e só podem ser usadas, nos horários de pico, por veículos com dois ou mais ocupantes. Em alguns locais, o motorista solidário tem descontos ou isenção de pedágios.
Especialistas acreditam que viajar de carro sozinho é um fenômeno relacionado a fatores como a qualidade do transporte coletivo, o bom momento econômico do país e uma cultura de valorização do indivíduo.
A nova cultura se reflete nos números. Entre os anos de 2000 e 2009, a frota gaúcha cresceu 37,5%, chegando aos 4,4 milhões de veículos. A população aumentou 6,9%, atingindo a marca de 10,9 milhões de habitantes. Em âmbito nacional, no mesmo período, o número de passageiros dos transporte coletivo caiu cerca de 20%, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea)."
Concordo plenamente.
Mas fiquei pensando: o pessoal que trabalha na ZH dá carona? Proprietários, colunistas, jornalistas e demais funcionários dão carona ou vão cada um com seu carro pra redação?
Daí cheguei a outra conclusão: não adianta gente de bom nível socio-econômico ficar dando conselho pro cara mais humilde (que acabou de comprar um carro financiado e quer mais é usufruir do conforto e do status social de andar de carro) só pro pessoal do andar de cima ter a rua com pouco tráfego.
Ou a coisa vai se dar num nível amplo, como TODO MUNDO tendo de andar de transporte coletivo ou em ciclovias ou os acidentes e congestionamentos vão continuar, pois ninguém vai abrir mão do seu conforto individual.
Com a Copa do Mundo de 2014 no Brasil, a FIFA está exigindo que a parte externa próxima aos estádios tenha acesso livre para o transporte coletivo, e não para os veículos particulares. Um bom exemplo de planejamento urbano e social que obrigaria as pessoas a pensar e agir coletivamente para melhorar o trânsito.
Todos ganharíamos. Até a poluição do meio ambiente diminuiria consideravelmente e o ar seria melhor.
Como canta meu amigo Alberto André: "pedalar, pedalar, pra não poluir..." e ter mais saúde!
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 11/04/2011
Alterado em 12/04/2011