João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Crônicas e comentário sobre Scliar em Charqueadas

Vou colocar aqui dois textos do cronista e jornalista charqueadense Rodrigo Ramazzini a propósito do faleciemento do escritor Moacyr Scliar, onde ele fala com muita propriedade sobre a vinda do mesmo a Charqueadas para o II Sarau Literário, em 2006. Também vou publicar um comentário que enviei ao Rodrigo acerca de um dos textos, que foram veiculados tanto no blog do autor quanto no jornal Portal de Notícias.


Adeus, Scliar - Os bastidores de um encontro.

Conheci pessoalmente o escritor Moacyr Scliar no ano de 2006. À época, eu era presidente da Associação de Literatura de Charqueadas e o traríamos ao município para realizar uma palestra durante as atividades do Sarau Literário daquele ano. Como ocupante do cargo, coube-me acompanhar o carro que buscaria o escritor na capital para fazer-lhes as honras da casa. Antes da curta viagem, liguei para o meu amigo João Soares para contar-lhe sobre a realização do evento, bem como do futuro encontro com o Scliar. Lembro até hoje das palavras do “Joãozinho”: “cola nele e “chupa” todo o conhecimento que conseguires dele. O Scliar é uma pessoa sensacional!”. Depois descobri que o João tinha toda a razão.

Nervosismo à parte, o primeiro contato com o escritor aconteceu na entrada do seu prédio, em Porto Alegre. Com um sorriso no rosto, ao ver-me gritou “fala, mestre” e cumprimentou-me com sua singular simpatia. A partir daí, comecei o que posso classificar como uma verdadeira “guerra”, pois iniciei um bombardeio de questões sobre todos os assuntos até retornarmos para Charqueadas.

Durante o trajeto de volta descobri porque o escritor era admirado não só por sua obra, mas, também, como ser humano. Com simplicidade, paciência e bom humor, Scliar ia sanando todas as minhas dúvidas e orientando-me como um bom professor. Um dos ensinamentos carrego vivo até hoje: a valorização dos leitores. Parece óbvio isso para quem escreve. Porém, não é. Tratar cada leitor como um ser único e mostrar-lhe gratidão por ele “gastar” seu tempo lendo os textos deve ser algo sempre que possível demonstrado. É o que eu tento fazer quando há qualquer tipo de manifestação nesse sentido.

Logicamente, sou mais um dos admiradores do trabalho do Moacyr Scliar. Possuo vários livros do autor, mas tenho um apreço pela obra “O exército de um homem só”. A qualidade e a quantidade da sua produção literária são impressionantes. Dizia ele que escrevia uma coluna de jornal em 20 minutos. Sinceramente, não consigo imaginar como isso é possível, tendo como base que, às vezes, demoro horas para escrever meia dúzia de linhas.

Voltando a palestra, em Charqueadas. Já durante o evento, nos sentamos ao lado um do outro. Com um Solar Shopping lotado, ele começou a falar e a encantar quem estava lá assistindo. Poucas vezes vi uma platéia prestar tanta atenção no que uma pessoa falava. Era um silêncio só. Depois de mais de uma hora de conversa, o Scliar agradeceu a presença de todos e me passou o microfone, questionando-me baixinho “E aí, o que achou?”. Embevecido com tudo e surpreendido pela pergunta em um tom de impressionante humildade, apenas tive a reação de convocar uma salva de palmas, o que foi realizada por todos em pé.

Após atender os leitores, autografar vários livros e uma breve paradinha na praça de alimentação, era hora de fazer o caminho de volta para Porto Alegre. Foi o momento da vingança do Scliar contra mim. Com os papéis trocados, ele que começou a me encher de perguntas. Fez isso, na maior parte do trajeto, com uma incomum curiosidade.
Já na capital, com cordiais palavras escreveu uma dedicatória e deu-me um autógrafo. Despedimos-nos. Dois dias depois me enviou um email comentando um dos meus textos que acabara de ler. Novamente, utilizando afetuosas e generosas palavras.

Essa afabilidade era a marca de um homem interessado e maravilhado com o cotidiano de pessoas comuns, como eu. Foi uma experiência e um contato que durou pouco tempo, mas que deixará os rastros e os ensinamentos para o resto da vida.

Obrigado por tudo e adeus, Scliar!
Postado por Rodrigo Ramazzini às Segunda-feira, Fevereiro 28, 2011

Joao Adolfo Guerreiro disse...Li no jornal hoje. Já ia te escrever pra falar disso mesmo.
Cara, eu esperava que ele sobrevivesse, estava torcendo por ele, quando soube no plantão do futebol domingo que ele tinha morrido, levei um choque. Estava no serviço, liguei pra Rosi pra dar a notícia.
Fiquei triste, até hoje ainda me pego pensando nele e lamentando a sua partida, ainda com muito a escrever, pois era jovem como escritor. Lia direto a coluna dele. Dos livros, Li apenas O Anão no Televisor, O Exército de um Homen Só e Uma História Farroupilha.
Embora não o tenha conhecido, o depoimento teu e dos outros colegas sobre a simples e simpática presença dele no II Sarau me fez criar uma grande simpatia por ele, que transcendeu o aspceto literário e se dirigiu para o humano.
Tu vê, um cara "imortal" ter nos dado aquela atenção, quanto tanto mané por aí hoje não é ninguém e é tri arrogante e esnobe.
E podemos perceber agora dezenas de depoimentos análogos ao teu pela imprensa, o que mostra que ele era um cara muito legal mesmo.
Acho que os caras realmente bons são assim, simples e generosos, arrogantes são os que são mascarados.
Conheci pessoalmente o Gaúcho da Fronteira na CPA, ele foi tocar de graça uma vez lá. Tu tem que ver a humildade e a educação daquela cara, coisa de gente com condição humana muito elevada. E ele estava tocando de graça lá a agadecendo o favor, pessoalmente a cada funcionário!!! Nunca esqueci.
Scliar, pelo que vocês me disseram aquela vez, era da mesma cepa.
Estou triste mesmo pela morte dele. Gozado isso até, a gente ficar de luto por alguém que nunca encontrou na vida, pelo menos pessoalmente claro, mas o contato mediatizado não deixa de ser uma forma de convívio né?
Mas ele não era um farsante duas caras, pois na vez do Sarau vocês me passaram isso.
Muito legal a tua coluna sobre ele Rodrigo, fiquei muito contente que tu a tenha escrito e publicado, valeu mesmo cara, lavou a minha alma.
Parabéns e abraço.
1 de março de 2011 16:49


O sequestro do Moacyr Scliar


Crônica escrita no ano de 2006, quando o escritor esteve no município de Charqueadas para participar do Sarau Literário.

- Moacyr Scliar. Esse é o cara!
Exclamei. Opção aceita. Seqüestrando o escritor, nós, desconhecidos escritores que formamos uma gangue, ganharíamos o espaço na mídia proporcional ao nosso talento. Elaboramos um plano. Um belo plano. O primeiro passo para o efetuarmos foi entrar para a organização do II Sarau Literário de Charqueadas, assim, não chamaríamos atenção, afinal, somos literatos, e não seqüestradores profissionais.
O Sarau nos ofereceria um espaço privilegiado para que expuséssemos nossas obras. Mas queremos mais. Queremos espalhar nossas idéias por Charqueadas, pela Região Carbonífera, pela região metropolitana, pelo Rio Grande, pelo Brasil!
Bem, o segundo passo foi sugerir para os demais organizadores o nome do Moacyr Scliar para palestrar no evento. Aprovado na hora! Nem desconfiaram. O terceiro passo foi entrar em contato com o escritor. Ingenuamente ele olhou na sua agenda e respondeu:
- Dia 17. Posso sim dia 17! O plano estava sendo executado brilhantemente.
Seqüestrando o Moacyr Scliar, pediremos como resgate que uma boa editora edite, publique, distribua, e divulgue os nossos livros. Assim ficaremos famosos! Quem sabe até entraremos para a ABL.
Tudo pronto, II Sarau já ocorrendo, então, chega dia 17. Eu e dois dos meus comparsas fomos buscá-lo. Seguindo o nosso plano, os passos seguintes são: pegar o Scliar em Porto Alegre e o conduzir até o local da palestra, o deixar palestrar, e posteriormente, ao levar-lhe para casa, efetuaremos o seqüestro.
Paramos o carro em frente ao seu prédio. Espera de 30 minutos, até que surgiu aquele senhor simpático. Não me deixei cativar por aquele sorriso, mantive-me sério, afinal, eu sou um dos mais novos seqüestradores da praça.
Logo que entramos no carro, houve certo desvio de rota no nosso plano. Um dos meus comparsas emocionou-se em estar ao lado do Moacyr Scliar. Elogiou-o longamente, fez efusivamente perguntas durante todo o caminho, foi uma festa! Até foto tirou. Eu apenas pensava:
- Nós combinamos que não nos envolveríamos com a vítima. Perdi um dos meus.
O local da palestra estava lotado. Chegamos, o Scliar conversou com algumas pessoas, tirou fotos, e logo subiu ao palco. Sentei-me ao seu lado. O dom da oratória e a magia em narrar histórias que o Scliar possui cativa o público. Perdi mais um dos meus colegas de seqüestro quando ele me fez um sinal de positivo com a mão direita, ergueu o lábio inferior, balançou a cabeça afirmativamente e através da leitura labial percebi que ele disse: - Que palestra! O homem é bom!
Confesso que estava emocionado com a palestra. Estava descobrindo os segredos literários de um dos maiores escritor do Brasil. Segurei-me, afinal, sou o líder de uma gangue (Uma gangue que momentaneamente, após baixas, é composta por dois integrantes). Mas acredito que ainda sim, poderemos realizar o seqüestro. Foi quando vi o último dos meus comparsas, no espaço aberto ao final da palestra para perguntas, com o microfone na mão, olhos umedecidos, rasgando elogios, e para minha surpresa, dizendo que já havia lido boa parte da obra do Scliar, fazer-lhe um questionamento. Era o fim!
Entro no carro para levá-lo de volta a Porto Alegre. Estou indignado com os meus comparsas, mas por outro lado, sem motivo aparente, uma sensação de alívio me possui. Durante o caminho de retorno, deixo minha seriedade de lado, afinal, não vou mais seqüestrá-lo mesmo, e como ele puxara conversa, batemos um papo durante todo o caminho. Paramos em frente ao seu prédio, desço do carro junto com o Scliar. Subo uma pequena escada que dá acesso ao saguão, pensando: vou ter que achar outra maneira de chamar atenção das editoras para lançar o meu livro. Também, eu seqüestrador?
- Rodrigo, foi um prazer conhecê-lo, obrigado pela oportunidade.
- O prazer foi todo meu Scliar! Neste momento, olho para os lados, ninguém nos assiste, o carro que nos trouxera está manobrando. Não resisto, puxo a caneta e o livro que possuo no bolso e peço:
- Me dá um autógrafo!
Postado por Rodrigo Ramazzini às Segunda-feira, Fevereiro 28, 2011



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João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 05/03/2011
Alterado em 10/05/2011
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