João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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VUVUZELAS

Caro Jornalista L. P.

Sua coluna no Jornal da Copa de ZH é uma bosta e é o máximo.
Você, com a afirmação pejorativa feita em sua coluna contra as simpáticas e terceiro mundistas vuvuzelas, inclusive tirando um sarro dos antropólogos, se tornou o mais reacionário dos jornalistas, usando uma terminologia socrática* em voga (* falo do jogador, não do filósofo).

Confesso que quando vi seu nome entre os integrantes da equipe de cobertura da Copa, pensei preconceituosa e socraticamente*: “Putz, o que esse aí vai fazer na Copa?
Mas devo reconhecer que a sua coluna é uma bosta e é o máximo. E, veja, digo uma bosta, não uma m####. E todo o bom antropólogo deve saber a diferença entre a bosta e a m####.

Você já fez guerra de bosta de vaca lá no Alegrete? Eu já, aqui em Charqueadas! E é o máximo e é uma bosta, concretamente. Agora nunca vi alguém fazer guerra de m####, e esta eu não faria, pois seria uma m#### e seria o mínimo.
Havia um vasto campo nos fundos da vila onde eu morava na Cohab de Charqueadas, onde as vacas se alimentavam e defecavam (hoje é um loteamento residencial). Lá era o nosso campo de batalha da guerra de bosta de vaca. Era o máximo.
Acho que todo o militar, antes de praticar com arma, deveria aprender tática em guerra de bosta de vaca. Lá você sempre aprende que ficar de boca aberta, expondo o rosto, de bobeira, pode ser um terrível e nauseabundo perigo, principalmente se a munição estiver mais úmida do que seca.
E quem não gosta de guerra de bosta de vaca, não sabe a diferença entre a m#### e a bosta, nunca vai ser um bom milico, um bom antropólogo e, creio, um bom jornalista. Porisso digo que a tua coluna é uma bosta.

Tua coluna é antropologia pura, um relato etnográfico que encheria de tesão Malinowiski: o velho iria ficar babando pra colocar essa “carne e sangue” que se vê na sua coluna no “esqueleto” de uma boa teoria.
Creio que Geertz iria achar interessante a sua “descrição densa”, mas o Roberto DaMatta é que iria sorrir com tanto “anthropological blues”. Acredito que todo o jornalista daria um bom antropólogo se tivesse o “esqueleto” da teoria antropológica, pois sabem fazer um trabalho de campo, um relato etnográfico como poucos.
E, nesse sentido, a sua coluna é uma bosta, mora?

Você e o Coimbra, na ordem, são as primeiras leituras que faço no Jornal da Copa. Vocês, na ordem, tem o dom de fazer a gente se sentir aí, dentro do estádios, quase dá pra sentir o cheiro. Ora, uma jornalista tri observada por um colega comedor de cachorro frio! O Cristiano Ronaldo gay! As mulheres que estão por aí na copa! A cerveja com alcool dos alemães bagaceiros! A (in)segurança nos estádios!
Cara, isso tudo é "antropologia" pura, descrição densa, carne e sangue, antropological blues, relato etnográfico. E você escreve muito bem cara, informação e antropologia não precisam ser chatas e pesadas.

Eu até ia cancelar minha assinatura da ZH, só não fiz por causa da cobertura da Copa, da tua coluna e da do Coimbra. Sou de esquerda (veja, ninguém é perfeito né, eu fiz Ciências Sociais na Unisinos nos anos 90, só podia dar nisso; mas existe também quem vote na direita, e, mesmo assim, todos somos filhos de Deus) e sempre paro de assinar ZH em período eleitoral, pra não estragar meu humor com o noticiário político anti-esquerda disfarçado de ZH. Socraticamente* falando, os gaúchos são os brasileiros mais reacionários e ZH é o jornal mais (politicamente) reacionário, embora o pessoal esteja se esforçando no Correio do Povo. Coitado do Juremir, um dos que é dos meus preferidos também.
Mas esportiva e culturalmente a ZH é legal, escolhem caras bons pra trabalhar aí: Você, o Coimbra, o Falcão (sabe tudo esse colorado!), o Scliar, o Veríssimo, o Assis Brasil, o Fischer, dentre outros caras que dão prazer em ler. Então fora do período eleitoral dá pra ler ZH.

VUVUZELAS – Cara, pensa comigo: As coisa legais e culturalmente marcantes acontecem em copas do terceiro mundo. Nas copas de países ricos, europa e EUA, só tem eficiência, tecnologia e rigidez. Tudo perfeito demais sem antropological blues. Na verdade, é tudo mentira, pois nada é perfeito.
Na copa da Argentina, que eu vi pela TV, lembro: cantos, papéis picados, toda aquela coisa que você bem mencionou hoje. No México fizeram a “ola”. Pois as vuvuzelas são a graça da Copa da África. Os terceiro mundistas sempre colocam alguma coisa legal, e as vuvuzelas são aquela coisa chata mas marcante, expressão cultural de um povo oprimido por décadas de racismo, o grito dos excluídos a ser ouvido pelo mundo! Nem importa que os excluídos não consigam entrar nos estádios africanos na Copa, a não ser por algum programa social de governo, que os brancos e negrões de $$$ é que estão lá, mas não importa, as vuvuzelas, a jabulani e as tuas "gatinhas da Copa" são o que tem de interessante por aí, numa Copa pobre do ponto de vista da bola rolando. É o que vai marcar, ficar associado a lembrança desta copa.

Valeu, continue assim que você vai bem cara. Sucesso.
(Ah, eu jogo direto no bolão de uma Lan House daqui, e acerto menos que você. Parabéns.)

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 28/06/2010
Alterado em 28/06/2010
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