Podem dizer tudo do nosso treinador, mas ele usa sobretudo de Herchcovitch! Olha ele aí, tri fashion contra a Coréia do Norte.
“- Duuungaaa, viaaadooo!” I - Podemos fazer um sem número de abordagens de um evento global como a Copa de Mundo de Futebol, críticas ou entusiastas, e todas bem pertinentes.
Eu, particularmente, não estava nem aí pra essa Copa. O futebol está virado num grande negócio mais do que paixão popular, os jogadores estão muito profissionais e pouco “camisas”, a maioria dos caras da seleção joga fora do Brasil e a gente acaba perdendo o vínculo com eles. Mas como gosto de futebol, a Copa começou e eu me pego olhando os jogos, vendo essa festa de nacionalidades característica da Copa do Mundo, ainda mais que é na África, num país que tem uma importância simbólica muito grande nos últimos anos.
Uma coisa que não podemos negar, nós, brasileiros, é que a Copa do Mundo nos coloca em estágio superior aos demais povos do planeta: somos os maiorais, os donos da bola, e o mundo, aqui, tem de se render aos nossos pés. Por isso um sentimento nacionalista de orgulho da pátria mãe sempre aflora em períodos de Copa do mundo.
II - Charqueadas, Rio Grande do Sul, Brasil. Bar Paredão, centro da cidade, cruzamento das avenidas 1º de Maio e Bento Gonçalves (creio que toda a cidade gaúcha deve ter avenidas com esses nomes, mas aqui em Charqueadas elas até se cruzam), dia 15 de junho de 2010, 15 horas.
Eu, minha filha e outros quarenta charqueadenses estamos ali pra torcer pelo Brasil em vez de estar em casa olhando pela televisão. Aliás, repararam que Copa do Mundo é o único programa de qualidade internacional que todos os pobres podem assistir em TV aberta?
Mas lá estamos nós, gaúchos e brasileiros, gremistas e colorados, irmanados pelo sentimento de torcer pelos nossos gladiadores modernos na arena do futebol, em defesa das cores de nossa pátria. Outro aliás: repararam que nós somos a seleção verde e amarelo, todas as decorações de bares usam essas cores, mas que a seleção joga de azul e amarelo?
Bem, eu, de minha parte, fui de camiseta amarela, calção azul e meu indefectível tênis verde. Ao sentarmos na mesa, tinha uma “vuvuzela” a nossa disposição, cortesia da casa. Aliás, a empresa Unimed (empresa privada de saúde) esta junto com o pessoal do bar dando brindes e fazendo um bolão.
Buenas, como ainda não tinha almoçado, pedi uma refeição à moda Tex: um bife e uma montanha de batatas fritas, com um cerveja fresca pra tirar o pó da garganta. Mas pedi Antártica Original, pois quando bebo é só coisa boa, até porque não sou de tomar dúzias de “briontas” (como meu sogro e seu irmão chamam a cerveja).
Da tal Unimed haviam duas loiras e um cara ali, fazendo um bolão. Eu marquei seco: 1x0 Brasil. Todo mundo lá, 3x0, 4x0, e eu 1x0. Tinha sonhado na noite passada que esse seria o escore, e quando sonho é batata: sempre dá o resultado. Quando o Inter meteu 4x1 no Grêmio pelo brasileiro de 2007 tive o mesmo sonho, que, no caso, foi um pesadelo.
Começa o jogo, eu lá assitindo. O primeiro tempo termina 0x0 e todos já tensos, pois ninguém esperava que a Coréia do Norte fosse ser páreo para a seleção do Dunga. Menos eu, que tinha sonhado, já sabia de antemão que a coisa seria assim. Os coreanos estavam tão fechados atrás quanto o seu país é para o mundo. Na real, os coreanos não eram aquela baba que todo mundo esperava.
A única emoção que eu senti no primeiro tempo (aliás, durante todo o jogo), foi ver o jogador coreano chorando copiosamente durante a execução do hino do seu país. Me emocionei com aquilo. Me imaginei no lugar dele, representando o meu país num evento de tal porte contra a melhor equipe do mundo. Num mundo megaloaníaco onde interessa tanto vencer e ser grande, ver alguém emocionado pelo simples dom de existir é uma coisa tocante. Será que teremos outro momento tão verdadeiro de um “profissional” nessa Copa do Mundo?
Sai um pouco do bar pra comprar cartão pro celular no posto de gasolina ali perto. Ao retornar, estavam as loiras da Unimed fazendo um sorteio, pois ao sentar ouvi elas perguntando: “Qual foi o primeiro campeão da Copa do Mundo?” As duas originais estavam fazendo o seu efeito e o meu raciocínio estava lento, daí um gurizão no fundo gritou: “ – Uruguai!”. Taí, deram um brinde pra ele.
Ah, então era isso. Tentei me concentrar. Para tal, já ia pedir outra Original quando outra loira, agora uma das donas do Paredão, decidiu sortear uma Skol e fez uma pergunta “difícil”: “Quem foi a única pessoa que foi campeão mundial como jogador e como técnico?”. Ela nem terminou a última palavra e eu disse: “Zagalo”.
Taí, economizei uma cerveja. Apesar de que eu não tomo Skol, quando quero uma pilsen comum, peço Polar. Mas vamos lá, cerveja de graça não se olha o rótulo. E o segundo tempo estava começando.
Uma gurizada ao fundo do bar vá tocar vuvuzela, e elogiando o Dunga:
- “Duuungaaa, viaaadooo!”
Eu comecei a entrar no coro também. Não perdôo ele por não ter levado o Ronaldinho Gaúcho pra Copa da África. Na real não tô nem aí pra seleção dele, mas acho que ele, como técnico, tem todo o direito de escalar o seu time. E eu, como torcedor, tenho todo o direito de malhar ele, embora eu não goste desses adjetivos homofóbicos preconceituosos e respeite muito o técnico do Brasil, jogador parte de uma geração vencedora. Todavia, brincadeira é brincadeira.
Daqui a pouco gol do Brasil, 1x0. E eu, do alto da minha empáfia, fiquei certo de que acabaria aí a coisa e eu ganharia um prêmio como acertador do bolão. Entretanto o Robinho, único jogador diferenciado dessa seleção, resolve dar um passe pro Elano fazer o segundo gol. Ué, fiquei sem entender nada. E o meu sonho?
No final, a Coréia do Norte ainda dá uma espetada no Brasil: 2x1. Quem acertou o bolão foi o enteado de um colega meu de serviço, um guri de 10 anos. É preciso ter humildade, sempre.
E o pessoal indignado, vá entoar “Duuuugaaaa, viaaadooo”.
III - Eu nem fiquei impressionado, pois o Brasil, com esse futebol, não é favorito, mas pode perfeitamente ser campeão. Ninguém tá jogando um futebol excepcional mesmo. A Itália não foi campeã em 1982 depois de eliminar Argentina e o supertime do Brasil, mesmo depois de ter empatado três jogos na fase de classificação? Pois se aquilo foi possível, não vejo porque não seja possível agora o Brasil ser campeão.
E, ademais, é bom lembrar que outros times favoritos ao título tiveram pior desempenho na primeira rodada: Inglaterra ficou no 1x1 com os Estados Unidos; a França ficou no 0x0 com o Uruguai; a Itália no 1x1 com o Paraguai; e a Espanha perdeu de 1x0 pra Suíça. A favor destes times, dá pra dizer que jogaram com equipes mais qualificadas que a Coréia do Norte. Mas o que importa é bola na rede e três pontos, a Espanha jogou muito mais que o Brasil e perdeu. E Dunga é um prático, um pragmático do futebol, gaúcho de Ijuí, volante. Isso diz tudo dele e da sua seleção.
Dos jogos que eu vi (só não vi Coréia x Grécia), dentre as “grandes” seleções, gostei, na ordem, de Alemanha, Espanha, França, Holanda, Brasil e Argentina (essa, só do meio campo pra frente). Das equipes “médias”, gostei na ordem, de Chile, Estados Unidos, Japão, Uruguai, Costa do Marfim e Portugal.
O grupo do Brasil não é tão fácil como se supunha, pra quem assistiu Portugal x C do Marfim. O Brasil passa, mas não sei em qual posição. E, já na próxima fase, vamos pegar um time dentre Chile, Espanha e Suíça. De cara, risco de vida, creiam-me.
Me decepcionei bastante com o time da Nigéria. Os caras não conseguiram acertar três escanteios na corrida contra a Argentina, todos batidos da direita pra lá do segundo pau, perto da risca lateral da grande área!!! Nunca imaginei isso em copa do mundo, ainda mais da Nigéria.
Me surpreendi com o tipo de futebol da Alemanha, com bastante velocidade e qualidade técnica.
IV - Hoje de tarde assisti África do Sul 0x2 Uruguai, e fiquei pensando: como um país de terceiro mundo do continente mais pobre do planeta se escala pra organizar um evento como a Copa do Mundo, gasta 700 milhões de dólares só pra construir um dos estádios utilizados na Copa e vem com um time tão fraco como esse? Será a primeira vez, pelo eu se vê, que um país sede não passará da primeira fase da competição.
Também fiquei pensando sobre o que significa pra países como África do Sul e Brasil organizarem eventos como Panamericano, Olimpíada ou Copa do Mundo? Claro que eventos como esses projetam o país no mundo de uma forma ímpar. Mas os custos, valem a pena, compensam? As melhorias para o povo pobre são significativas, levando-se em conta o enorme investimento público que é feito? Sabe, 700 milhões de dólares é muito dinheiro quando se fala em países que tem grandes contingentes populacionais abaixo da linha de pobreza.
Assitindo o jogo no Paredão.