João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Michael Jackson’s This Is It
Diretor – Kenny Ortega, 2009, EUA, 161 min.

A primeira coisa que salta aos olhos ao assitir o DVD “Michael Jackson’s This Is It”, sobre os bastidores dos ensaios preparatórios para os 50 shows que o artista iria fazer no O2 Arena em Londres (com quase 1 milhão de ingressos vendidos antecipadamente), é que seria uma despedida artística triunfal do Rei do Pop, um espetáculo sem parâmetros.

O show seria algo incrível mesmo, perfeição artística total, requinte de produção beirando a megalomania, tudo a serviço do maior artista de nosso tempo: dança, cinema, música, moda e alta tecnologia. Pra se ter uma idéia, um telão gigante de plasma de 30 metros por 9 mostraria filmes em 3D que interagiriam com os músicos, cantores e dançarinos sobre o palco. E os filmes, todos rodados e criados com muita produção especialmente para o show.

Nem digo que foi uma lástima para o mundo o artista ter morrido antes dos shows, pois a obra de Michael já está toda aí, o show seria algo inesquecível, mas não aumentaria o que Jackson já tinha dado à arte e ao entretenimento no final do século XX. Claro, para a família, foi uma tragédia, um homem novo, com muito ainda pra viver, pai de crianças pequenas, acabar daquela forma, uma morte estúpida.

Ainda não consigo segurar a gargalhada quando ouço críticos falando dele como decadente. Nos ensaios, Michael ainda era o Michael, cantando e dançando com o talento de sempre, ciente de tudo a sua volta, coordenando (detalhadamente!!!!) bailarinos, músicos, produtores, em suma, o diretor geral e astro principal do espetáculo, mesmo muitíssimo bem assessorado por pessoas talentosas e competentes. Por todo o lado se vê requinte, competência e talento dos envolvidos. Não se economizava dinheiro pra fazer acontecer a mágica concebida por Jackson. Decadente... Então tá.

Imagine um cara que está lá, dando dicas e atento aos detalhes das coreografias dos seus bailarinos? Discutindo com o diretor musical uma nota num acorde do teclado na introdução de uma canção? Falando como o baixista sobre as notas de uma linha? Com o baterista sobre o som do chimbal? Sobre as notas e linhas melódicas do acompanhamento de fundo com os quatro vocalistas? Indicando ao diretor alterações na performance dos atores em um dos filmes? Um cara que sabia decor os tons e os andamentos de todas as suas canções? Debatendo todo o processo de concepção e execução do show com os diretores gerais de cada área, incluído aí participação direta na escolha de músicos e dançarinos? Esse era o artista Michael Jackson. Um nível de excelência e complexidade realmente difícil de ser alcançado, um cara que sabia fazer de forma especial e total a sua arte.

E isso tudo o DVD “Michael Jackson’s This Is It” mostra. Só achei o subtítulo errado: ”Descubra o homem que você não conhecia”. Na verdade nada do homem se vê no DVD, mas sim do artista pleno em sua expressão total, extremamente humilde e excepcionalmente educado, atencioso e amoroso com todo o pessoal de sua equipe. Um cara muito ligado a Deus, ao amor, a natureza. Essas coisas o DVD mostra. E, na real, é o que importa né?

A figura de Michael é que não era a mesma de antes. Sempre de óculos escuros, magríssimo, branquelo, com o rosto disforme. Parecia o Willi Wonka de “A Fantástica Fábrica de Chocolate”, na versão atual do Tim Burton, interpretado pelo Johnny Deep. Isso, Michael Jackson era o gênio Willi Wonka em sua fantástica fábrica de chocolates, inteligente, mas com um pé no real e outro no irreal, atento ao mundo real mas vivendo em um mundo próprio! Quem viu o filme de Burton vai sacar bem o que estou a dizer! Mas a fábrica de sonhos de Jackson acontecia de verdade, nos discos, nos clips, nos shows, incorporando inúmeras variantes do imaginário e das facetas da cultura pop de nosso tempo.

Michael foi realmente o Rei do Pop, pois constituiu uma obra que era o amálgama de toda uma cultura predominante em seu tempo. Um artista enciclopédico, parabólico, Willi Wonka construindo doces surpreendentes numa fábrica fantástica.
Um exemplo? Assista “Avatar”, de James Cameron, um manifesto ambiental em 3D, e veja o que Jackson concebeu no show para a canção “Earth Song”. Um artista em perfeita simetria com a ideologia de seu tempo. Esse show seria a síntese de tudo isso.

Tudo isso você percebe ao assistir ao DVD.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 05/05/2010
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