João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
GUNS N' ROSES
em Porto Alegre


Quem foi não esquecerá jamais,
quem não foi nem imagina o que perdeu.
Organização "Welcome to the Jungle", Show "Paradise City".

Quem foi jovem no final dos anos 80 e início do 90 do século passado e curtia rock, entende o sentido das palavras acima.
Guns Roses foi, talvez, a última grande banda de hard rock que existiu. Sucesso total, extrapolou a seara roqueira e tocou em tudo quanto foi rádio e TV.
Eu lembro da primeira vez que ouvi Guns, em agosto de 1989. Foi na mesma Porto Alegre deste show do dia 16 de março de 2010. Eu estudava no Sevigné e, à noite, na calçada da rua durante o recreio, um cara abriu o porta malas do carro e rolava uma canção.Ouvi aquela introdução de guitarra e ne arrepiei. Tinha 21 anos. A canção era Sweet Child O'Mine, uma balada roqueira.
Como gostava de rock'n roll e ouvia muito Led Zeppelin, Guns Roses foi pra mim uma banda da hora fazendo o som que eu queria ouvir, um hard rock, sem frescuras, longe de toda aquela coisa do metal farofa e do teatro de horror em voga. Fui na loja e comprei o LP (ainda era tempo do LP) Appetite for Destruction, o primeiro deles, antológico, um marco do rock.

Passados outros 21 anos, pude ir ver os caras tocarem aqui em Porto Alegre, agora na turnê do album Chinese Democracy, que ficou 14 anos sendo gravado. É o primeiro desde o fim da antiga formação do Guns, que incluía, além do vocalista AXL Rose (único integrante original ainda no Guns), o guitarrista Slash e o baixista Duff, dentre outros.
Nos outros shows que eles fizeram no Brasil, em 1991 e em 2001, ambos no Rock In Rio, eu não pude ir, ou por motivos de grana ou profissionais, nem lembro.

Eu quase não fui ao show, estava naquelas juquices de que só o Axl estava na banda da formação antiga, o Slash não estaria, a gente gasta muito indo num show desses (fui no Oasis ano passado em Porto Algre e gastei bastante). Daí o meu cunhado mais novo, que tem 21 anos, comprou ingresso. Uma semana antes eu comecei a ouvir melhor o CD Chinese Democracy, daí acordei e caí na real: eu não poderia perder um show desses!

ORGANIZAÇÃO 'Welcome to the jungle".

Saímos no ônibus das 11h45min daqui de Charqueadas, 12h50min estávamos em Porto Alegre. No ônibus, uns caras conhecidos, atrás de nós, falavam do Guns, do Slash não estar no show, essas coisas. Otários, mas estavam no direito deles. Que fossem ver então o Dream Theater no Pesi On Stage, que também é uma excelente banda e estava com show em Porto Alegre também.
Deixei a mala no guarda volumes e fomos lá na Fiergs comprar o meu ingresso.

No ônibus conhecemos um curitibano que tinha vindo de avião pra ver o show. O cara era parecido e tinha o jeito de um colega meu lá de São Gabriel, o Ricardo, que também curte rock.
O cara nos falou que viria com a namorada no show, mas brigou com a mina na véspera e estava lá, querendo trocar os dois ingressos de arquibancada por um de pista premium, que fica bem perto do palco. Falou pra gente que o time dele lá no seu estado era o Paraná Clube, mas que na verdade ele torcia mesmo é pro Santos. A gente sempre estranha isso, sempre que encontra caras de SC, PR, GO ou do nordeste, eles sempre torcem pra algum time do RJ ou SP. Nós aqui no Sul só torcemos é pra Grêmio ou Inter. O meu cunhado me disse depois que teve vontade de dar um saco na cara do curitibano depois que ele disse isso. "Tu vê João, um cara torcer prum time de fora do estado dele?". Meu cunhado mais novo é um cara tri, mas é bem radical.
Ao chegarmos lá, vimos o pessoal na fila pra entrar e, depois vim a saber, tinha gente desde sábado ali!!! Respeitei esse pessoal, de verdade, mas eu teria comprado um ingresso de pista premium.
Na fila do ingresso nos despedimos do cara, que estava demorando pra trocar os ingressos e, só então, nos apresentamos. Adivinhem o nome do cara? É, também era Ricardo, que nem o meu colega.

Buenas, voltamos pra rodoviária, malas recolhidas, pro hotel, bem ali perto. Banho, descanso, saímos um pouco depois das 17:30 pra pegar o ônibus no terminal Parobé. O show começaria às 19h, com a banda punk gaúcha Tequila Baby. Calculei mal o tempo, ficamos numa fila enorme e fui pegar o ônibus às 18:30. A viagem normal era de 20 minutos, com o engarrafamento, chegamos lá na Fiergs às 19:50, ainda bem que pelo menos fomos sentados.

Chegamos na Fiergs, uma fila do cão. Fomos entrar 21:30 no local so show. Na real nem vi o tempo passar, a expectativa para o show e a curtição vendo os tipos mais estranhos tornou tudo breve.

Lá dentro, fila para banheiros químicos. Masculinos é claro, pois nos das mulheres não tinha, os caras sempre colocam número iguais de WC e vai mais caras em shows assim.
15 minutos depois, estamos nós olhando o movimento e a fauna do local. Descobrimos que os shows não haviam começado, o que eu já tinha percebido pelo deslocamento de equipamentos sob o palco.
Olhamos as camisetas oficiais, nem eram tão legais assim, e custavam 70 pila. Ah, vão se catar, não sou engenheiro da Eletrosul!
Buenas, fomos comprar algo pra comer e beber. Percebemos fila enorme nos bares, latinha de ceva a cinco pila, sanduichinho a 5 também. Fomos ver com os ambulantes: 7 reais a latinha!! Não pago, morro de sede mas não pago. "Ah, ali tem fila, tu me paga e ajuda eu com meus filinhos lá em casa" - disse o cara. Vai ver quer ajuda pra sustentar os filhos dele em Harvard!
15 minutos na fila pra comprar os vales. E ainda não tinha mais sanduichinhos!!!! Comprei 4 latinhas, pois já tinha visto que a boca era braba na fila dos balcões de entrega.
Cara, acreditem, cerca de meia hora pra conseguir pegar as 4 cevas, eles serviam num copo plástico da Polar. Aperto, empurra empurra, berros com os caras que atendiam. Sobrevivemos e saímos eu e o meu cunhado daquele lugar.
Realmente, Welcome to the Jungle!!!
Estávamos pra cá e pra lá, mas felizmente o tempo fresco ajudava muito.
Depois das 23:30 sobe a segunda banda que iria tocar (na programação, às 20 hoiras!), os gaúchos hard rock da Rosa Tatooada. Gosto dos caras, conheci o baterista deles numa gravação de um jingle pra uma campanha politica aqui de Charqueadas, onde toquei baixo e guitarra e o Alberto André fez a voz e o violão, o Eduardo tocou bateria. Batemos altos papos, o cara é tri gente fina, nos falou de quando abriram o show do Guns no Brasil em 1991. Isso foi em 2004.
O público vaiou os caras, pois estava querendo ouvir o Guns, que deveria ter entrado às 22horas. O vocalista falou do rock gaúcho, de que o Tequila não pode tocar devido aos atrasos, e mandaram três músicas.

Saíram eles e logo depois da meia noite entrou o Sebastian Bach e a sua competentíssima banda, com dois guitarristas fenomenais (aliás, toda a banda muito boa). E o Sebastian agita bastante, está ainda em forma, embora não tenha aquela mesma voz maravilhosa dos tempos do Skid Row, mas mandando ver muito bem. Cantou, agitou, falou com a gente em português esforçado, muito simpático. Num momento do show entrou uma morena muito gata no palco, filmando tudo. Era a namorada do Sebastian. Deu beijo nela, tapa nas nádegas, a galera vibrou. Grande figura esse Sebastian, deve ser um cara legal.

SHOW "Paradise City"


Término do show do Sebastian. Expectativa. Palco escurece, são duas da matina, já é dia 17. Começa um som de teclado. Parece eterno. As luzes do telão principal no fundo do palco se ascendem, vem o símbolo do Guns nele. A galera pira: "Guns N Roses, Guns N Roses..."
Entra o DJ Ashba, guitarra em punho, levanta as mãos, somente sua figura em sombra contra a luz ofuscante do telão e manda ver os acordes iniciais de Chinese Democracy. Que som de guitarra gente, limpo e poderoso. Ali já vi que o show seria demais. Entra o Axl cantando, imagens nos cincos telões giantescos, fogos e luzes. Olha, realmente, eu nunca seberia o que perdi se não tivesse ido. Ashba lembra muito o Slash, no estilo e no jeito de tocar.
A segunda música foi Welcome to the Jungle e o estacionamento da Fiergs sacudiu numa histeria coletiva, todo mundo cantando junto com o Axl. Vinte anos de espera em Porto Alegre soltos ali, naquele ato, naquela catarse. Só entende quem foi ou aind aé jovem e curte Guns Roses. Indescritível um momento desses. Vivi coisas assim poucas vezes, em jogos importantes do grêmio, como naquela final da Libertadores de 1995.
E o show continuou. Eu parecia ter 21 anos de novo, pulava feito louco, liberei as energias. Coisa boa ter saúde né!
A banda era muito boa, os três guitarristas eram feras mesmo, tocam muito os caras, além da vontade e da presença de palco que eles mostraram. Axl e os caras da banda vieram aqui a fim de mostrar que o Guns não morreu, que ainda vive e é o Guns, e todos ali viram e constataram indubitavelmente isso. E olha que o Axl já tem 48!
Depois da apresentação solo do DJ Ashba, deram sequência com Sweet Child O Mine. Nova histeria coletiva, 17 mil vozes em coro cantando um dos hinos da banda e da história do rock. Foi até covardia com o público eles terem emendado depois You Could be Mine (trilha do filme Exterminador do Futuro), mas o pessoal delirou novamente.
Claro, teve outras canções que agitaram, como Rocket Queen, estou só a falar daqueles momentos catárticos mesmo. O repertório antigo foi o que mais emocionou, impossível não ter sido assim, mas as canções de Chinese Democracy são muito boas e mostraram que o Guns ainda vive muito bem.
Um outro grande momento foi November Rain, o pessoal bem emocionado e cantando junto. (No outro dia li um babaca escrever na Zero Hora que o pessoal chorou de sono a cansaço nessa música! Realmente, esse jornalista não devia estar lá vendo o show ou, se estava, estava obrigado, pois o clima era muito, mas muito oposto mesmo: adrenalina e vibração total!).
No bis, jogaram um boneco do Romer Simpson no palco, que o Axl pegou e botou dentro da calça e ficou alisando a cabeça dele. Eh eh eh eh, o Axl não vale nada mesmo. Tiozão sacana.
A galera levantou com Patience, e lá veio o Ashba de novo, agora com a bandeira do Rio Grande do Sul nas costas. Os caras sabem ser simpáticos e agradar mesmo.
O final foi apoteótico, com Paradise City. Axl ainda chamou uma guria que estava de aniversário pra cima do palco e cantou parabéns em inglês pra mina.
E todo mundo extasiado, com aquela expressão de "esse foi o maior show que já vi".

VOLTA AO "Welcome to the Jungle"


Terminado o show, 04:30 mais ou menos, vamos comer algo. Uma Van de cachorro quente no local! 10 paus o cachorro!! Não pago!
Na rua, paguei 5 pila pelo cachorro, 3 pelo latão de Skol e 30 reais por duas camisetas do show nos camelos.
E achar ônibus pra ir pro centro de Porto Alegre? Depois de 40 minutos, pegamnos um taxi com um cara de Pelotas, que tinha perdido o passo dos amigos. Pagamos vinte e ele quinze pila. 05:45 deito na cama do hotel. Tomo um banho. Às 07:15 me acordo pra pegar um ônibus pra ir pra Charqueadas trabalhar.
Mas querem saber de uma coisa? Putz, não foi nada, valeu a pena mesmo.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 24/03/2010
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