João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Trabalhando no verão

Verão é sol, é mar, é praia, mulheres e homens jovens e sarados, cerveja, suco, diversão.
Mas o verão também é o verão de quem trabalha. E, principalmente, de quem trabalha debaixo do sol escaldante. No caso, ganhar a vida é suar de verdade!

O Sindicato dos Atletas profissionais do RS entrou com uma ação na justiça pra vetar jogos de futebol pelo Campeonato Gaúcho entre às 10h e as 18h. Jogos, devido aos contratos da Federação Gaúcha de Futebol (FGF) com a TV, estavam sendo realizados às 11h e as 17h, sob o sol implacável que tem feito no verão gaúcho, com temperaturas próximas aos 37° e sensação térmica para além de 40.
Parece uma coisa meio louca essa nossa sociedade.
No veraneio, dermatologistas estão toda hora na TV mostrando os malefícios do sol para quem vai à praia entre às 10 e as 17h, podendo causar diversas doenças graves na pele. No seu contrato com a FGF, a mesma TV exige jogos em tais horários para adequar as transmissões à disponibilidade de sua grade de programação. Mas e os malefícios a pele dos jogadores? Não importam?
Os jogadores tem bons salários, pelo menos os de Grêmio e Inter, coisa de 20 a 200 mil reais, dependendo do jogador. No recurso que a FGF interpôs à liminar do Sindicato, usou o exemplo de trabalhadores que tem carga horária entre às 09 e as 18h. O recurso da FGF não derrubou a liminar.
E eu pergunto: e esses trabalhadores que ficam sob o sol, cuja realidade foi utilizada no recurso da FGF? Quem olha por eles? Eles não correm também os riscos de adquirirem câncer de pele?

No meu local de trabalho, o Governo do Estado está realizando uma obra de ampliação, coisa grande. As empreiteiras contratam ferreiros, carpinteiros, pedreiros e ajudantes de produção aqui em Charqueadas mesmo. A gente faz amizade com o pessoal e conversa com eles.
Chegam as 08 horas. Param às 12 horas. Retomam às 13h e vão até às 18h. Como a obra ainda está nas fundações, os caras labutam sob a torreira do sol. E olha gente, eu não tinha visto ainda um sol destes aqui no RS como neste fevereiro. Se o leitor se interessar e procurar algo na Internet sobre tal fato, verá que não se trata de impressão subjetiva minha.
Os ajudantes ganham 500 e poucos reais, os profissionais 800 e poucos reais. Jovens no primeiro emprego, homens casados sustentando sua família. Os verdadeiros heróis do Brasil, creiam. Já trabalhei em construção civil e sei o que eles passam. Vagabundo e molenga não vinga num trabalho desses. O cara tem de ser trabalhador e muito macho, em qualquer sentido que você dê a essa palavra..
Eu e o resto do pessoal nas salas, com ventilador ou ar condicionado, reclamando do calor, alegando mal estar, e os caras lá, trabalhando duro sob o açoite do sol. Podiam estar roubando, mas estão lá, ajudando a construir uma obra para o progresso do Rio Grande, e são os que ganham menos.

O homem é o lobo do homem e a sociedade é realmente hipócrita, seja o Governo, o Estado, a FGF, as TV’s. Tudo está bem, se eu posso curtir o meu verão, cada um que faça por si. Que os jogadores bem remunerados e os trabalhadores explorados se ralem ao sol pelo nosso prazer. Nossa sociedade não pode dar certo mesmo.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 06/02/2010
Alterado em 10/02/2010
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