João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos

Vestido vermelho
, mala branca

Dois fatos me ocuparam a cabeça na última semana, em se tratando de notícias nacionais. Em primeiro lugar, o rebuliço que deu na Universidade Bandeirantes em São Paulo o fato de uma moça ir à aula no período noturno com um vestido vermelho curto; no outro plano, o bafafá da “mala branca” que o pessoal do Barueri teria recebido no campeonato brasileiro de futebol, do Cruzeiro, visando derrotar o Flamengo (o que aconteceu), conforme declarações do goleiro e do centroavante do time.
Cores: branco e vermelho. Objetos: mala e vestido. Elo comum: ética. Isso mesmo, os fatos revelam muito do nosso comportamento ético, do nosso senso de moral (e de moralismo) e da nossa boa educação. (Nem vou discorrer sobre esses conceitos aqui, mas advirto que estou usando a acepção clássica dos mesmos.)

Confesso a vocês que a reação negativa e agressiva dos jovens estudantes universitários de São Paulo para com a moça do vestido me deixou estarrecido! Não esperava uma atitude dessas de pessoas assim. A moça foi ofendida, constrangida, humilhada, parece que até agredida, sendo necessária a escolta de cinco PM’s para que a mesma deixasse a “universidade” em segurança !?!?!? Realmente (como dizia o Brizola), fiquei estupefato com tamanha boçalidade. Uma vergonha (como diz o Casoy)!
Aqui no Rio Grande do Sul recentemente aconteceu um fato desses, quando duas adolescentes com provocadoras minissaia andavam pela Rua da Praia e foram hostilizadas pelo povo, terminando as duas na delegacia! Isso a bem pouco tempo atrás, a quarenta e dois anos, eu ainda nem era nascido.
Olha, o vestido vermelho não era pra isso tudo!!! Não tinha nem decote!!!! Só deixava as belas pernas da guria mais expostas, só isso. E o que é que tem uma bela perna de fora, tchê?
Aqui no meu serviço, tem uma colega, uma loira, bem bonita, que ficou um dia de noite até mais tarde no serviço e se arrumou por aqui mesmo antes de ir embora, provavelmente para ver o seu amado. Gente, nós na portaria, mais o pessoal da segurança, e de repente percebemos aquela aparição chegando, de vestido com pequenas listras horizontais vermelhas e brancas, leve (era novembro), curto, decotado, aberto nas costas. Ficou todo mundo em estado de fascinação. A colega estava com o físico em dia e o vestido tinha uma “elevada” barra diagonal que realçava ainda mais as pernas maravilhosas dela. Pessoal, o vestido da loira aí de São Paulo era de freira perto do da minha colega. Mas todos nós ficamos encantados com tamanha beleza à mostra ante nosso olhos masculinos e mortais. Nem sombra de grosseria ou pensamentos vulgares, apenas aquela certeza de que Deus, nessas horas, prova que existe e é mestre. A vida é bela, o belo faz parte da vida, Deus seja louvado! O belo também é uma parte de Deus na terra, criação sua. A sujeira das coisas está na cabeça perturbada de algumas pessoas mal resolvidas emocional e psicologicamente.
Claro que é óbvio concluir que um misto de inveja feminina com despeito masculino provocaram a congestão boçal naqueles universiotários, pois a moça do vestido vermelho era uma tremenda gata mesmo, um mulherão, como se diz, tinha o que mostrar naquele vestido, e isso é daquelas coisas que é pra quem pode, não pra quem quer. Assim como tem mulher bonita, tem mulher legal, tem mulher inteligente, tem mulher sensível, tem mulher caridosa, tem mulher simpática, tem mulher de classe, tem mulher de tudo o quanto é jeito, e cada uma brilha na sua devida passarela aos olhos desse mundo. A da guria do vestido é a sua beleza plástica: loira, olhos verdes, corpo escultural, uma legítima “loira de Angola” (como cantou o Chico Buarque), “que leva o chocalho amarrado na canela, passando pelo regimento faz requebrar a sentinela.
Todos nós sabemos desse tipo de coisa, moça bonita chama a atenção onde passa. Homem bonito também. Ou a mulherada não fica encantada quando vê um Gianechinni da vida? Um Brad Pitty? Claro que fica! E é natural e é saudável que assim seja, com todo o respeito e boa educação, sem grosserias ou vulgaridades.

No caso da “mala branca”, o goleiro e o centroavante do Barueri disseram (e depois desdisseram) que o Cruzeiro deu uma grana pra eles visando estimulá-los a obter uma vitória contra o Flamengo, e eles venceram por 2x0. O nome disso é mala branca, um time (Cruzeiro) dar um $$$ pra jogadores de outro (Barueri) vencerem um time (Flamengo) que está disputando vaga com aquele primeiro (Cruzeiro). A “mala preta” seria quando um time compra o juiz ou os jogadores do time contra o qual vai jogar para que eles entreguem o jogo, percam de propósito. A mala branca seria do bem, a mala preta do mal.
Na ótica dos jogadores profissionais não tem nada de mais numa mala branca, “faz parte”. Na maioria das vezes a mala branca é oferecida pra um time que só está a cumprir tabela no campeonato, ou seja, nem tem chances de título nem de ser rebaixado. A mala branca seria então como o famoso “bicho”, só que pago por outro clube, não pelo o que o jogador defende e que sempre dá essa gratificação extra em caso de vitória. Mas a direção do Barueri afastou os jogadores devido a polêmica provocada. Uma coisa é o que acontece entre as quatro linhas do gramado, outra coisa é falar isso na imprensa. Esse “jogo” não dá pra entregar, pois daí revela o truque, revela o que está por trás da ilusão, do teatro que é o futebol profissional.
Daí nisso tudo o zagueiro Rafael Marques, do Grêmio, diz em entrevista que não vê problema na mala branca, que é do futebol, e que aceitaria ganhar também, tem família pra sustentar, essas coisas. Mas tem um problema nisso tudo: O Grêmio ainda tem chances matemáticas de classificar-se para a Libertadores da América, de ficar entre os quatro primeiros colocados no Brasileirão, o Barueri não, mas ainda tem que garantir a vaga na Sul Americana.
Aí é que está: então eles, com a mala branca, jogarão com mais vontade? Então quer dizer que mesmo ganhando bem, em dia, e com os respectivos times precisando vencer pra subirem na tabela de classificação, os jogadores não se esforçam muito? Deus do céu, onde está a ética profissional dessa gente? Esse povo só tem fome e força? Tudo (só!) por dinheiro? Já não chega o “bicho”?
Eu sou contra a mala branca, pois quem recebe mala branca pode receber mala preta também. O futebol está podre, pois até alguns juizes já foram pegos na mala preta. E o escândalo de 2005, do Edílson, da forma como o Corinthians foi campeão nacional depois da anulação daqueles jogos? Uma vergonha. E digo parcialmente contra pois não vejo mal em um jogador de um time pequeno, que está só cumprindo tabela no final do campeonato, que já não está ganhando bicho, aceitar um por fora pra correr um pouco mais por um time que não é o seu. Não vejo prejuízo pra ninguém nisso. Embora tenha consciência que é uma posição pouco defensável.

(O Rafael Marques fez um gol contra no jogo Santo André 2x0 Grêmio e, no jogo Inter 1x0 Grêmio, foi expulso na prorrogação e levou quase dois minutos pra sair de campo, matando tempo precioso. Logo ele fala isso, pra revolta da torcida gremista. “O que é isso, jogador do Grêmio com mentalidade de jogador de time pequeno!” Pois o Rafael deve ter pensado que ainda estava no Goiás (que não considero time pequeno), quando um pessoal ligado ao Grêmio, dizem, ofereceu uma mala branca pra eles no último jogo do campeonato contra o São Paulo, ano passado, quando o Grêmio ainda tinha chance de ser campeão e o Goiás somente cumpria tabela. Mas o São Paulo venceu o jogo. Aqui se faz, aqui se paga, eh eh eh eh, tanto o Grêmio quanto o Rafael Marques. Como diria um desses palestrantes empresariais por aí, motivação é tudo! Na última quarta, no estádio Olímpico, contra o São Paulo, o Marques fez o gol do Grêmio no empate de 1x1 e... fez também outro gol contra! Vai ver que prometeram a mala e depois desprometeram, eh eh eh eh. Mas o torcedor vibrou com o gol dele. Torcedor de futebol também não presta, é que nem mulher de malandro, apanha, fica braba, mas depois ganha um cafuné e já se derrete toda.)

Então chegamos nós até aqui, leitores. Ética. Moral. Boa educação. Respeito. Ética.
É ético andar de vestido curto?
É ético ofender uma bela moça de vinte anos por andar de vestido curto?
É imoral andar de vestido curto?
É falta de respeito e de boa educação andar de vestido curto?
É falta de respeito e de boa educação ofender quem anda de vestido curto?
É ético receber mala branca pra fazer bem feito um serviço pelo qual já é pago?
É ético oferecer mala branca pra um time vencer outro?
É imoral a mala branca?
É falta de respeito consigo e com os outros oferecer e aceitar mala branca?
É moralismo ser contra um vestido curto?
É imoral defender um vestido curto?
É moralismo ser contra a mala branca?
É imoral defender a mala branca?
Pelo jeito, essas questões ainda estão na ordem do dia no Brasil e as respostas continuam em aberto.


João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 08/11/2009
Alterado em 08/11/2009
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