A mulher do mineiro
Antes de ser um pólo da indústria metal-mecânica com a construção, no final dos anos 60, da siderúrgica Aços Finos Piratini (atual Gerdau), Charqueadas foi, dos anos 50 a 80 do século passado, uma cidade com economia calcada na extração do carvão mineral, retirado através de um poço com profundidade de 300 metros aproximadamente. O processo produtivo era basicamente manual e usava grande quantidade de mão-de-obra, os mineiros, que desciam de elevador até o "fundo da mina".
Era o início dos anos 80 e acontecia a primeira eleição para prefeito da cidade, recém emancipada de São Jerônimo.
Num comício, um candidato fazia menção a situação do mineiro e sua família.
- E o mineiro, esse trabalhador sofrido. Fica lá embaixo da mina, tirando o carvão dessa terra abençoada. E depois, cansado, chega em casa e ainda vai dormir na cama de “pau duro”!
O público vibra. O candidato dá uma respirada e continua:
- E a mulher do mineiro? Bem, essa faz a sua parte. O mineiro lá embaixo da mina, suando, e ela em casa, “ferro e ferro”.
Mais vibração do público. Outra respirada técnica.
- A mulher do mineiro sofre muito meu povo. Cuida dos filhos, da casa, faz a comida, vai no mercado, no açougue, na padaria, no médico, na farmácia. Corre o dia todo. Se for eleito, vou acabar com o “corrimento” da mulher do mineiro.
O público vai a loucura. Ao final do comício, um assessor chega para o candidato e fala, nervoso:
- Você está louco? O que você fez? Você viu quanta besteira você disse?
- Que besteira o que tchê? Por acaso você sabe o que é dormir num colchão ruim? O que é passar roupa com ferro de brasa? O que é cuidar de uma família sozinha? Ora, vá se enxergar seu besta!
O candidato realmente sabia o que estava fazendo, pois se elegeu.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 11/06/2006