O cunhado do Sebastião
- Gente boa esse meu cunhado, o Carlinhos - dizia Sebastião para todo mundo, referindo-se ao marido da sua irmã mais velha, já cinquentona.
Certa vez foram os dois pescar com Godofredo, um amigo de infância de Sebastião que há anos não o visitava. Foram no carro do visitante.
- Pois este é o meu cunhado, Carlinhos. Casado com a Isaura. Lembra dela, Fredo? - falou Sebastião logo que saíram.
- Lembro sim, claro - respondeu Godofredo.
- Claro... Também né, tu foi namorado dela.
Carlinhos fica um pouco desconfortável. Sebastião, indiscreta e inoportunamente, continua:
- Inclusive fiquei sabendo que tu foi o primeiro que “crã” nela, né seu safado!
Godofredo envermelhou. Carlinhos fechou o semblante. Sebastião nem aí.
- Mas como eu ia te dizendo, esse é o meu cunhado. Muito boa gente, mas bebe que é um condenado. Depois fica incomodando a Isaurinha, coitada. Mas é gente muito boa.
Carlinhos vira o rosto para a janela.
- Também não trabalha, vive às custas da minha irmã. Imagina? O “serviço” dele deve ser muito bom, para a Isaurinha agüentar. Ou então sabe como é, mulher coroa às vezes se desespera e arruma qualquer porcaria para não ficar só e carente. Claro que não é o caso do Carlinhos, que é gente muito boa.
Godofredo nem pisca de tanto constrangimento. Carlinhos se inquieta no banco do carona. Sebastião arremata:
- Ele até já “puxou cana”, sabia? Atropelou uma véia quando estava dirigindo de porre. Mas isso acontece né. Já faz tempo, inclusive. Mas é gente boa. Amigão!
- Pára o carro - pede Carlinhos, num fio de voz.
- Vai tirar uma água do joelho? - perguntou Sebastião.
- Vai te f#$&$ seu desgraçado - gritou Carlinhos, ao mesmo tempo em que batia a porta do carro e tomava o caminho de volta.
- Mas o que foi tchê? Volta aqui! Tu vê só Fredo, o que deu nele? Não repara, o Carlinhos é assim, meio nervoso, mas é gente boa. Vai ver é porque ele não “cheirou “ hoje. Vício é uma coisa triste! Sabe como é, custa caro e a Isaurinha não dá dinheiro para ele comprar isso.
Godofredo olhou para Sebastião e deu graças a Deus por não ter casado com Isaura.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 27/05/2006