João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
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Textos
Com o Grêmio o impossível acontece

1 - Sei que o título é um exagero apaixonado, se visto com os olhos da razão, mas me permito esse deslize. A vida também é regida, no que é humano, pela paixão. Ora, não é a paixão que move os grandes feitos? E o futebol é paixão, sobretudo, e a conquista do título da segunda divisão do brasileiro de 2005 pelo Grêmio o comprova.
Não era exagero quando os diretores do Grêmio falavam que o jogo contra o Náutico seria o mais importante do clube, mais ainda que o mundial de Tóquio de 1983. Claro, no Estádio dos Aflitos (ironia, não?), o Grêmio estaria disputando, mais que um título, o seu futuro: se perdesse, ficaria outro ano na segunda divisão, o que significaria o agravamento mortal das finanças do clube com conseqüências catastróficas. É só olhar o que aconteceu com o Bahia e o Vitória para ver... ...terceirona!
O jogo estava equilibrado nos Aflitos. O Grêmio até poderia estar ganhando, pois era mais time que o Náutico, que parava na defesa do Grêmio. Ademais, a sorte e a competência naquele dia estavam ao lado do Grêmio, e o azar e a incompetência com o Náutico. Falam que o juiz complicou o Grêmio e apitou mal. Discordo. No pênalti marcado no primeiro tempo, o zagueiro do Grêmio realmente empurrou o centroavante adversário, mesmo que esse tenha valorizado um pouco o lance. Como a sorte estava conosco naquele domingo, o cobrador chutou na trave. O Galatto foi muito bem na bola, mas não a defenderia.

2 - No segundo tempo, o juiz errou em favor do Grêmio, quando não deu o pênalti de Galatto sobre o avante do Náutico. O cara driblou o goleiro do Grêmio e este o deslocou colocando a mão no rosto do cara. E o juiz ainda deu cartão amarelo pro jogador do Náutico, vejam. Se o lance do pênalti, aos 35 minutos, foi ou não foi, não sei. Me parece que a bola bateu na mão do Nunes, não sendo o lance intencional. Na hora, gelei. Só faltavam dez minutos. Quando os jogadores do Grêmio começaram a fazer besteira e três foram expulsos (com justiça, e ainda saiu barato só três), aí caí em depressão, achando que tudo estava perdido. Sete em campo e pênalti contra! Não esqueçam que o Escalona havia sido expulso um pouco antes, e que ele é que vinha segurando (com maestria) a jogada forte do Náutico pela direita.
Depois de cerca de meia hora de confusão, lá foi o cara bater. Olha, até fico com vergonha em dizer que a gente fica deprimido com desgraça de futebol quando tanta gente passa fome e morre de maneira estúpida no mundo. Mas eu estava. Naquela hora, uma tristeza e uma frustração enorme tomaram conta de mim. Mais um ano na segundona, crise financeira, meu Deus, o que seria do Grêmio e de nós gremistas? Anos de infortúnio? Terceira divisão? Falência? O futebol estava na iminência de perder a graça e virar tormento naquele pênalti.
Nisso, um detalhe: enquanto a tragédia e o tumulto aconteciam, um jogador do Grêmio cavoucava a marca do pênalti com as mãos, para dificultar a batida. Ouvi o Paulo Sant’Anna falar isso na TVCom. Imaginem a presença de espírito de um cara desses, o tumulto acontecendo e o cara lá, despercebido, já procurando uma saída futura para a tragédia coletiva, contribuindo com uma iniciativa individual? Pessoas com esse tino nos momentos difíceis também fazem a diferença.
Então o cara bateu e o Galatto defendeu. Realmente, a sorte e a competência estavam conosco. Mas ainda faltavam dez minutos e nós com sete em campo! O que faríamos? Aí entrou o fator Anderson, mostrando porque alguns jogadores tem a capacidade de fazer a diferença.
Só um jogador diferenciado teria a ousadia de sair driblando o time adversário até ser derrubado por um zagueiro. Falta pra nós, expulsão do cara. Alívio imediato, réstia de esperança. Logo, a falta é cobrada e o Anderson, com mais ousadia ainda, e mais inteligência ainda, sai driblando pela ponta direita, dribla a zaga adversária em alta velocidade, invade a área e marca na saída do goleiro. Olha, creio que esse menino não veio no mundo a passeio. Ele veio com uma estrela feita pra brilhar. Só pode ser essa a explicação. O guri é craque, e daquelas com ousadia e inteligência típicas dos grandes jogadores, daqueles que fazem a diferença. Incrível o seu feito, será lembrando enquanto o Grêmio e os gremistas existirem nesse planeta.
Inacreditável. Eu só pensava boquiaberto “não acredito, não acredito”. Saímos da desclassificação para o título da segundona em questão de minutos. Um feito inacreditável, daqueles que só acontecem no cinema e na literatura. Mas aconteceu na realidade! O impossível aconteceu. O Náutico não conseguiu fazer mais nada, mesmo com três jogadores a mais. Pudera, não podiam em poucos minutos entender o que estava acontecendo e tampouco reagir ao fato, algo que transcendia a lógica.

3 - Imagino a dor do Náutico quando o juiz deu o apito final. Perder um jogo daquela maneira, praticamente ganho aos 35 minutos, em casa, e tendo que amargar mais um ano na segundona. Imagino que o sofrimento de sua torcida era da mesma intensidade do que eu, minutos antes, estava sentindo, enquanto caía em desespero.
Me lembro do Fábio Koff, ex-presidente do Grêmio, falar que o time de 95/96 era “sobrenatural”. Nunca se entregava aquela equipe de Dinho, Goiano, Arce, Adilson, Paulo Nunes, Jardel, Danrlei, Carlos Miguel, Arílson, Roger, dentre outros. Numa Copa do Brasil, jogando a segunda partida do mata-mata contra o Palmeiras em São Paulo, vencia por dois a zero. Teve um expulso. Criou-se uma confusão e o Dinho e o Goiano perderam a cabeça e também foram expulsos. Pois o Grêmio, com oito em campo, segurou o resultado no primeiro tempo e, no segundo, impediu que o Palmeiras, com aquele timão com Roberto Carlos e Rivaldo, virasse o jogo. Final: 2x2 e Grêmio classificado. No brasileiro, o Grêmio estava jogando fora uma partida contra o Flamengo, aquele do “Sávio, Romário, Edmundo, o maior ataque do mundo”. O Grêmio perdia por dois a zero e teve dois jogadores expulsos. Mesmo assim, empatou o jogo. A gente não esquece esse tipo de coisa. E nunca vai esquecer o feito que os sete jogadores gremistas fizeram no domingo, 26 de novembro de 2005, no Recife, contra o Náutico, no Estádio dos Aflitos. Arrisco dizer que é um feito digno de entrar nos grandes feitos do futebol mundial, dadas as circunstâncias que, acho, não tem precedentes.

4 - Voltamos para a primeira divisão. Graças a Galatto. Graças a equipe titular. Graças ao grupo de jogadores. Graças a comissão técnica e a diretoria. Graças a torcida. Graças a Anderson, que está indo embora e nos deixa esse presente de sua genialidade (estou exagerando?), como a dizer: “vejam, se Grêmio fosse um clube com poderio financeiro de primeiro mundo, eu continuaria aqui; provavelmente o Ronaldinho ainda estaria aqui, e nós dois, juntos, faríamos uma das maiores duplas de meio de todos os tempos do futebol mundial, e o Grêmio estaria nesse tempo a bater os recordes de Santos, Flamengo, São Paulo, Barcelona, Real Madrid, Milan e outros, empilhando títulos mundiais, nacionais, americanos, etc; mas o Grêmio não vive essa realidade, apesar de ter formado na segunda metade dos anos noventa e no início dos anos 2000 grandes jogadores para o Brasil e o mundo (Carlos Miguel, Roger, Emerson, Anderson Polga, Anderson e Ronaldinho)”. Imaginem?
Mas está bom assim. Voltamos para a primeira divisão, e vimos o quanto ela vale e quão difícil é estar nela, o quer por si só já é um feito para qualquer cube brasileiro. Com o Grêmio onde o Grêmio estiver. Viva o Grêmio, Campeão do Mundo. No futebol, nada pode ser maior. Quem me contesta?
27.11.05

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Mais informações no site do Grêmio:
http://www.gremio.net/news/view.aspx?id=1073&language=0&news_type_id=4 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 26/04/2006
Alterado em 26/11/2007
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