Os dias e os meses passam, a vida pessoal retoma seu curso, um novo curso, dentro do mesmo contexto histórico, com velhos e novos personagens nele. A Terra e a vida pessoal rodam como o disco na vitrola...
Após dois anos e três meses sem vir aqui devido a pandemia, foram três dias maravilhosos com a Joana, o Jessé, a Beatriz e a Rosilane. Aliás, ontem foi a primeira vez que a Beatriz dormiu no "meinho". Quartos lado a lado ho Hotel Farol, com essa vista maravilhosa. Obrigado, Deus!
Ouvindo o mar bater na praia pela janela aberta do apartamento. Quanto tempo sem vir à Torres? Dois anos e três meses. Espero que a pandemia esteja passando. Um grande aprendizado tudo o que ocorreu nesse tempo: a pandemia, doença e morte da mãe e rápida doença e morte do pai. Dia 6 de setembro passado, eu no enterro da mãe e a Joana baixando o hospital com problemas da gravidez. 28 dias depois, ela vem pra casa com a Beatriz ok e a Emília me dá a notícia da doença do pai. 30 de dezembro o pai morre.
Foi duro cuidar do pai no hospital, nesta pandemia, pior que cuidar do Afre, pelo mesmo motivo, anos antes. Se a gente não se desapega do egoísmo e ve tudo como oportunidade amorosa de crescimento, evolução e superação, sucumbe e enlouquece. Depois os plantões no serviço com a pandemia em alta, a gente 24 horas ligado: o que passei com o pai foi um treino para isso, fazendo essa situação ser tirada de letra. Quando me irritava pela situação com o pai no hospital, pensava: "Tá achando ruim, pensa que para ele deve ser 100 vezes pior".
Tudo passou e, agora, estou aqui, de novo, dois anos depois, usufruindo da vida. Não existe passado, nada fica, a vida é somente o presente que é usufruido da melhor maneira, evitando-se sempre colocar pedras no caminho. A guerra é a desgraça da vida, como bem falou Exupery em Piloto de Guerra e como, agora, vemos ocorrer na Ucrânia. "A guerra não é uma aventura, é uma doença" - ASExupery. Pra quê?
Nunca mais serei o mesmo depois de tudo isso, de todo esse aprendizada nesses dois anos. Amanhã será a final do Gauchão, Grêmio X Ypiranga na Arena, e verei na TV do quarto, com o mar ao fundo, pela primeira vez. Vida é momento, até essas bobagens que tem lá sua cor, ajuda a ver a vida voltando ao normal. Tá bom? Valeu. E ser útil para as pessoas, não só usufruir momentos egoístas e prosaicos, pois Deus não nos deu oportunidade de continuar mais tempo nesse mundo para isso, mas por objetivos e tarefas maiores. Tocando a vida, na sua completude.
Desde o dia 30 de dezembro, com a morte do pai, não escrevia aqui. O pai ainda passou o Natal com a gente, na casa da Emília. Comprei cartões de Natal a seu pedido e ele me deu um, escreveu algo muito importante que guardarei para o resto de minha vida. Dia 02 fez dois meses da morte dele.
Hoje fizemos a missa de seis meses da morte da mãe, deu a data exata. Foi na Igreja Cristo Rei, às 09h30min, o padre Geneu a celebrou. Falou, na homilia, do diabo tentando Cristo no deserto, muito boa, a propósito da Quaresma. Decidi ontem fazê-la, depois de falar com a Emília. Coloquei uma mensagem às 07h de hoje nas comunidades "80 anos do Nery" e "Eu, Ivone", no Facebook. Fomos eu, a Rosi, a Joana, a Beatriz, a Emília e o Gilmar - esperei a Paula, mas ela não foi, avisei muito em cima, só pelo Face. Adorei a Joana ter ido e levado a Beatriz - linda essa bebezinha, ficou calminha e curtiu a missa inteira, tudo observando, dia 18 fará seis meses.
Convidei a Emília e o Gilmar para tomarem café da manhã comigo amanhã. Comprarei um pão de meio quilo na Pema, já encomendei. Farei a história dos "bicos" que a gente fazia com a mãe.
Dia 30 de dezembro de 2020, minha mãe cai e quebra o fêmur. Sua saúde debilitada se agrava e, após nove meses de muitos sofrimentos, desencarna. Nem nos recuperamos de sua morte, descobrimos um câncer de pulmão em estágio avançado no pai. Ontem, exatamente um ano depois da queda de sua esposa, morreu, nos primeiros minutos de 30 de dezembro de 2021 (*), no quarto 941, localizado nono andar do Hospital Ernesto Dornelles, em Porto Alegre. Três meses e vinte e quatro dias após minha mãe.
Nery Mathias Velho Guerreiro e Ivone de Souza Guerreiro casaram em 9 de julho de 1966 em Charqueadas, cidade que residiram pelo restante de suas vidas - 55 anos, um mês e 28 dias de casamento. Tiveram os filhos Maria Emília de Souza Guerreiro (18.08.1967) e João Adolfo de Souza Guerreiro (24.06.1968). Ele nasceu em 14 de julho de 1936 e ela em 03 de janeiro de 1944, vivendo, respectivamente, 85 e 77 anos. Nery, o oitavo de dez irmãos (cinco homens - Brasil, Zeca, Eraldo, Nery e Aroldo - e cinco mulheres - Olga, Laura, Ruth, Lizeth e Jussara), era filho de João Guerreiro de Lemos e Maria Raupp Velho; Ivone, a mais velha de três irmãos (duas mulheres - Ivone e Dione - e um homem - Ivã), de Adolfo de Souza e Emília da Rosa.
Tiveram como genro Gilmar de Souza Oliveira (1963) e como nora Rosilane Terezinha Goulart Rocha (1966). Netos Vinícius Guerreiro Oliveira (1993), Matheus Guerreiro Oliveira (1995) e Thiago Guerreiro Oliveira (2000), neta Joana Rocha Guerreiro (1997) e bisneta Beatriz Guerreiro Kappel (18.09.2021), filha de Joana e Jessé Silveira Kappel (1994). Luma Lidiane Nunes de Lima (1992), casada com Vinícius, era a "neta adotiva".
Estão sepultados juntos, no cemitério Júlio Rosa, em Charqueadas. Casaram, viveram, amaram e brigaram em casas com hortências, o que quer dizer que, se sua vida juntos não foi um mar de rosas, tampouco nela faltou flôres.
(*) - Na verdade deve ter falecido nos últimos minutos do dia 29, mas o médico só veio verificar seu óbito após a meia-noite, registrando-o nos primeiros minutos do dia 30.