Londres - "Pronto, aconteceu. O primeiro show completo do Led Zeppelin desde o fim da banda em 1980 agitou durante quase duas horas os 20 mil presentes à 02 Arena, em Londres, com um total de 16 músicas. Não faltou nem o hino "Stairway to heaven" que Robert Plant prometera nunca mais cantar ao vivo porque estava saturado com a canção, a mais emblemática da banda. "Nós fizemos, viu Ahmet," disse Plant, numa referência a Ahmet Ertegun (1923 - 2006), o lendário presidente da Atlantic Records e da fundação que leva seu nome para a educação de crianças carentes, beneficiária da renda do show.
O show de abertura, dos Rhythm Kings do ex-baixista dos Rolling Stones Bill Wyman, teve as participações do guitarrista Alvin Lee (Ten Years After), do vocalista Paul Rodgers que cantou canções de suas ex-bandas Free ("All right now") e Bad Company ("Do right woman"). Mick Jones cantou o sucesso de sua banda, Foreigner, "I want to know what love is".
Plant, Jimmy Page (guitarra), John Paul Jones (baixo e teclados) e Jason Bonham, filho do baterista original, John Bonham, tocaram sucessos e canções pouco conhecidas, uma delas, "For your life", nunca apresentada antes ao vivo. As primeiras críticas, das revistas ''New Musical Express'' e ''Billboard'', afirmam que Page estava em plena forma, mas Plant não chegou aos agudos alucinantes dos tempos áureos na década de 70.
O show começou pouco depois das 21 horas com um clipe do filme "The song remains the same" que dizia que eles quebraram o recorde de público dos Beatles num show em 1973 na Califórnia. Detalhe: Paul McCartney estava na platéia, junto com David Gilmour (Pink Floyd), Richard Ashcroft (The Verve), a modelo Kate Moss, o fake Marilyn Manson, Steve Winwood (ex-Traffic), Liam Galagher (Oasis) e os atores Laura Dern e Michael J. Fox.
A primeira música foi "Good times bad times" com Plant assolado por uma microfonia que cessou na segunda música, a bluesy "Ramble on", em andamento mais lento do que o original. A pesada "Black dog", abertura do quarto LP da banda, foi a seguinte, com a platéia respondendo aos "ah, ah" de Plant. Uma abertura com guitarra slide anunciou "In my time of dying", petardo lento e pesado do LP "Pyshical grafitti", ao final Plant falou pela primeira vez: "boa noite". "Isto é algo que quase não se ouve hoje em dia, Led Zeppelin dando a uma canção sua estréia ao vivo, disse o vocalista antes de "For your life".
Plant apresentou "Trampled underfoot" ("Physical Grafitti") como uma tentativa de soar como "Terraplane's blues" do mestre Robert Johnson. Grandes telões se destacavam na arena, às vezes se dividindo em quatro imagens diferentes como na pesada e lenta "Nobody's fault but mine" (LP ''Presence''), seguida da climática "No quarter" ("Houses of the holy") com John Paul Jones no teclado.
Page deu a introdução do blues "Since I've been loving you" ("Led Zeppelin III") em versão épica. "Dazed and confused" (LP "Led Zeppelin"), que nos bons tempos podia chegar a meia hora, teve uma versão compacta de 10 minutinhos, com Plant apresentando Jimmy Page ao final, exatamente como no filme. A platéia enlouqueceu quando Page deu a introdução de "Stairway to heaven" ("Led Zeppelin 4") com milhares de vozes juntando-se a Plant rumo ao céu escada acima. O rockão "The song remains the same" (LP "Houses of the holy") foi rápido e direto, seguida de um elogio de Plant a Jason Bonham antes de "Misty mountain hop" ("Led 4") que o pai dele tocava espancando a caixa e ele não ficou atrás.
"Temos gente aqui de 50 países, este é o 51º," disse Plant antes da épica "Kashmir!, que se estendeu por 10 minutos. A banda saiu sob ruidosos aplausos e gritos e assobios e berros de "mais um". Minutos depois voltaram e atacaram a toda "Whole lotta love" ("Led II") com sua ''tradicional'' encenação de um ato sexual.
"Obrigado a todos. Isto foi para Ahmet Ertegun como o lembramos, da época em que a Atlantic Records era a melhor gravadora do planeta," homenageou Plant. De repente, eles voltaram com a metralhante "Rock'n'roll tirando a platéia do sério. E foi o fim." Jamari França - O Globo Online