Ouvindo o mar bater na praia pela janela aberta do apartamento. Quanto tempo sem vir à Torres? Dois anos e três meses. Espero que a pandemia esteja passando. Um grande aprendizado tudo o que ocorreu nesse tempo: a pandemia, doença e morte da mãe e rápida doença e morte do pai. Dia 6 de setembro passado, eu no enterro da mãe e a Joana baixando o hospital com problemas da gravidez. 28 dias depois, ela vem pra casa com a Beatriz ok e a Emília me dá a notícia da doença do pai. 30 de dezembro o pai morre.
Foi duro cuidar do pai no hospital, nesta pandemia, pior que cuidar do Afre, pelo mesmo motivo, anos antes. Se a gente não se desapega do egoísmo e ve tudo como oportunidade amorosa de crescimento, evolução e superação, sucumbe e enlouquece. Depois os plantões no serviço com a pandemia em alta, a gente 24 horas ligado: o que passei com o pai foi um treino para isso, fazendo essa situação ser tirada de letra. Quando me irritava pela situação com o pai no hospital, pensava: "Tá achando ruim, pensa que para ele deve ser 100 vezes pior".
Tudo passou e, agora, estou aqui, de novo, dois anos depois, usufruindo da vida. Não existe passado, nada fica, a vida é somente o presente que é usufruido da melhor maneira, evitando-se sempre colocar pedras no caminho. A guerra é a desgraça da vida, como bem falou Exupery em Piloto de Guerra e como, agora, vemos ocorrer na Ucrânia. "A guerra não é uma aventura, é uma doença" - ASExupery. Pra quê?
Nunca mais serei o mesmo depois de tudo isso, de todo esse aprendizada nesses dois anos. Amanhã será a final do Gauchão, Grêmio X Ypiranga na Arena, e verei na TV do quarto, com o mar ao fundo, pela primeira vez. Vida é momento, até essas bobagens que tem lá sua cor, ajuda a ver a vida voltando ao normal. Tá bom? Valeu. E ser útil para as pessoas, não só usufruir momentos egoístas e prosaicos, pois Deus não nos deu oportunidade de continuar mais tempo nesse mundo para isso, mas por objetivos e tarefas maiores. Tocando a vida, na sua completude.