Desde o dia 21 de março estou em casa. Só coloquei o pé para fora do portão no domingo, 22 de março, para caminhar pelas ruas vazias, perto de onde moro, e na terça-feira, 24 de março, para levar um atestado médico no serviço.
No domingo 22 dei uma olhada na Igreja Navegantes, a matriz de minha cidade, fui numa praça, olhei uma termelétrica à carvão desativada e fui na esquina da rótula no centro. Para tudo isso, não me afastei mais de 800 metros de casa, pois tudo fica perto. Era por volta das 08 horas, a temperatura estava ótima, fiquei uma hora e pouco na rua. Levantei muito bem, foi a melhor manhã dos 16 dias. O sábado anterior foi péssimo, o pior dia de todos. Na terça 24, fui de bicicleta, achei mais seguro, no serviço. Fica a uns 6 quilômetros de casa. Na volta, ia parando pelo caminho, nas sombras das árvores, olhando um pouco o movimento e o belo dia em que, embora quente e já no sol forte das 11h, soprava uma brisa fresca. A vida é realmente bela.
Não mais tirei o pé para fora de casa. Não creio ser outra medida a salvar as pessoas dos grupos de risco que não o isolamento social de todos. Quem tem condições reais de fazer um isolamento vertical, apenas restrito às pessoas do grupo? Muito pouca gente. Ou barramos a circulação do vírus para os hospitais não superlotarem ou será a tragédia, o horror.
Na rotina, continuar escrevendo crônicas para o Portal de Notícias (todas buscando estimular as pessoas a se cuidarem e isolarem-se), ajudar muito no serviço doméstico (somos eu e minha amada esposa em casa), limpar o pátio todo dia, lavar os produtos do rancho antes de colocá-los em casa e ser rigoroso com procedimentos e protocolos a serem seguidos no ambiente doméstico. Ler também, que é o que mais me faz bem. Bíblia (como sempre) e São João da Cruz e vidas de santos, leituras que eu já vinha fazendo sistematicamente antes da quarentena, desde 2019, por puro interesse intelectual. TV não olho, só o canal Pai Eterno, quando minha esposa assiste. Só vi três filmes na Netflix, ainda assim porque minha esposa assistiu e a acompanhei. O que me fez um bem danado foi Chico Xavier, um filme abençoado e um ser humano único, onde, reassitindo-o agora, deu para aprender intensamente muito do que ali é-nos ensinado. Olhei bastante nos primeiros três dias o DVD ABBA in Concert, dos shows deles de 1979/80, nos EUA e Inglaterra. Muito bons eram esses suecos, e o show é ótimo. Alimentar e hidratar cães e gatos. Minhas três gatas (Coruja, Vulkana e Porto Alegre), essa ninhada de quatro (foto acima, onde aparecem três) que são da minha sogra, mais a mãe delas e uma outra que também aparece, mais a minha cadela, a Ponte Preta, e o cão, o Botafogo.
E assim vamos. Hoje assiti pelo Facebook com minha esposa a missa pela internet pelo Domingo de Ramos, que o Pe Miguel rezou lá da igreja Cristo Rei. Colocamos um ramo na porta de casa, minha esposa fez, ficou bonito. E rezando, sempre. Minha paz e coragem busco, em mim, via Ele. Como disse a Jule Santos num vídeo no Face, ter coragem não é o mesmo que não ter medo, dá para buscar o primeiro mesmo sentindo o segundo.
Não fico procurando notícias todos os dias na internet sobre a situação, conforme as orientações dos especialistas para manter a saúde mental e fortalecer o auto-controle. É uma situação difícil, pois envolve risco de morte. E dá para ver que as pessoas pobres estão mais desprotegidas em todos os sentidos. Imagina, tem favelas, no RJ, onde a água não chega em cima do morro. Como essas pessoas farão? Que tragédia. Nem sei dizer o que sinto quando penso nisso. Além do mais, somos uma família com bastante pessoas idosas, todos acima dos 70 anos, alguns diabéticos e cardíacos. Nunca pensei passar por algo assim na vida, nunca, um perigo tão abrangente sobre tantas pessoas ao mesmo tempo.
Não me incomodo nem um pouco de ficar em casa, a vida é mais importante que tudo. Além do mais, o ambiente doméstico é ótimo, eu e minha esposa nos damos muito bem, graças a Deus. Nessas horas é que tu constata ainda com mais força a importãncia de ter um ótimo casamento e priorizá-lo, trabalhar por ele, ser parceiro da pessoa amada. Uma benção esse amor, o amor da minha vida. Minha estrutura. Minha amada filha está na casa dela, com o marido. Um dádiva essa menina, algo que eu pedi a Deus e Ele me deu. Ela é motivo de orgulho e alegria para mim, admiro muito ela pela maneira com que pegou sua vida com as próprias mãos e seguiu construindo o seu destino.
Vou a partir de hoje reorganizar a biblioteca, um serviço há muito atrasado. Estou aprendendo muito com essa situação inédita para mim e para o mundo. As coisas da vida estão ficando muito claras. A vida de cada um tem de mudar muito depois de tudo isso. Desapego, solidariedade, generoside, tudo isso entrará na ordem do dia. Não há condição ética e moral de de continuar levando a vida como antes, depois de todo esse aprendizado. É algo que eu já vinha refletindo nos últimos dois anos para minha vida e que, agora, solidifica-se. Aprendemos e evoluímos com a vida, processo contínuo. Creio já ter entendido completamente o meu novo rumo. A consciência do social e do ser edificante no mundo urge, muito mais que nos anos 80 e 90, quando militava politicamente visando um mundo melhor. Precisamos uns dos outros, muito, principalmente agora.
Era isso. Fiquem todos com Deus.