João Adolfo Guerreiro
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Meu Diário
15/03/2018 23h27
Katy Perry na Arena Grêmio: baita show!

Rumo à Arena - Cheguei às 18 horas ontem (quarta-feira, 14.03.2018) na Arena Grêmio, em Porto Alegre. Ainda havia ingressos nas zonas mais caras, então comprei uma cadeira gold, no segundo anel do estádio. Ironicamente, os últimos bebem água suja, mesmo que seja de ouro.

A Arena, devido à localização, é um monumento à desigualdade brasileira. O contraste entre o luxuoso palco futebolístico e a precária vila que o envolve é extremo, gritante. Fosse a casa tricolor em uma área nobre, de classe média ou alta, não possuiria tal simbologia. Creio que Katy e sua equipe ficaram impressionados com isso, pois turistas e artistas estrangeiros sempre reparam e comentam sobre essa disparidade a olhos vistos que se vê no Brasil. Como disse Thomas Pikkety à ZH, "o Brasil é o país mais desigual do planeta".

O motorista de táxi que me trouxe comentou:

- Veja só, depois que essa Arena veio para cá, os caras enlouqueceram, estão pedindo 500 mil por uma propriedade aqui. Mas quem vai querer morar nesse lugar? Talvez naqueles bares na volta do estádio, e olhe lá!

Entrei no perímetro da Arena e fiquei observando a fauna humana presente, reparando em coisas incomuns em relação ao que se vê em dias de jogo. Ambulantes oferecendo bandeiras "arco-íris" em tecido luminoso, com o nome da cantora impresso. Nem em outros shows se vê isso, pelo menos nos que fui. Na maioria muitas mulheres jovens, adolescentes, mães com filhas pequenas e casais LGBT. Um público raro para o local.

No meu setor a mesma coisa. Detalhe: praticamente só gente branca. Vi umas quatro ou cinco negras nas cadeiras gold e, mesmo assim, eram mulatas, claras, miscigenadas. Já na limpeza, na segurança e nas lancherias eles eram maioria. Até um índio eu vi atendendo. Pode ser que num show de um rapper americano isso fosse diferente, não é mesmo? Daí daria para saber até onde vai a questão cultural e onde começa a sócio-econômica.

Valéria abre a noite - No palco, em torno das 19 horas, a cantora gaúcha Valéria, negra e trans, fazia uma apresentação interessantíssima, mostrando canções de qualidade, fortes, muito bem recebidas pelos até ali presentes. Embora o contraste entre a cantora e o público, não imaginaria maior sintonia cultural entre ambos. Curioso isso. E tri legal. Valéria disse que sua apresentação foi em virtude uma lei que estabelece shows de abertura nacionais em Porto Alegre, coisa assim. Bom, na quarta, a políitica de cotas deu um bom resultado.

Excelente surpresa - Bebe Rexha, que ocupou o palco em seguida, era uma desconhecida para mim. Fui muito bem apresentado e fiquei surpreendido com a qualidade do seu trabalho e da sua voz. Muita competência vocal e instrumental, canções muito boas. Além da cantora (e compositora) havia três músicos sobre o palco: guitarrista, tecladista e baterista. As linhas de baixo deviam ser play back, assim como as dobras de voz e vocais de apoio. Gostei muito da apresentação, procurarei conhecer melhor sua música.

KATY PERRY -  Às 21h45min Katy Perry surge toda de vermelho, elevada por debaixo da passarela que ia até a metade da pista sob uma intensa parede de gelo seco. O público urrou, ou melhor, gritou agudo. O show de Katy é isso mesmo que se vê nos seus clipes: teatral, quase carnavalesco, com muita dança, muita fantasia, muita simpatia e muita brincadeira.

A parte musical é de alto nível: baterista, baixista, tecladista, dois guitarristas e duas backing vocals em apoio à voz de Katy, que canta muito. As canções mais antigas foram apresentadas  com novos arranjos. I Kissed A Girl inicia com uma harmonia totalmente diferente da original, parece até que Perry está cantando uma coisa e a banda tocando outra. No refrão, surge a harmonia conhecidíssima, embora as guitarras, marcantes na primeira versão. aparecem mais econômicas no início das mudanças de acordes. Excelente, coisa de quem não se acomoda e se rrecria.

Por esse mesmo caminho seguiram Hot'N Cold, Teenage Dream, California Gurls, Last Friday Night e Wide Awake. Essa última, que considero como o ponto alto do show, veio em versão acústica, com Katy ao violão, acompanhada pela banda. Não se via improvisos durante todo o show, tudo era muito certinho, muito criativo, lúdico e visivelmente ensaiado á exaustão, com muita cenogradia móvel, impressionante. As canções, mesmo remodeladas, encaixavam-se perfeitamente nas camadas de teclados que certamente eram programadas, visto a profusão dessas, impossíveis para um único tecladista.

Lá pela metade do espetáculo, Katy chamou para subir no palco alguém da pista premium. Era uma mulher de 28 anos de Teresina, Piauí. Vejam só!  Deu uma boneca de presente para a cantora, que enrolava um pouco de português e se virava com o públicxo e com a fã. Pedia "silêncio" perfeitamente, e o público obedecia, sempre que ela queria dizer algo e o pessoal não parava de gritar. Antes de Hot'N Cold perguntou à platéia como se falava hot e cold em português. Frio ela conseguiu repetir, mas quente, de jeito nenhum..

Fez uma interação que, essa sim, pareceu espontânea, com um "tubarão azul", na passarela. Tive de sair um pouco antes do final do show. No táxi, ouço pelo rádio que uma vereadora do Rio de Janeiro fora executada. Nem duas horas de diversão e o sangue da realidade brasileira já era cuspido em meus ouvidos; Guitarras em Porto Alegre e pistolas da Cidade Maravilhosa. Mas Katy fez um baita show, isso é o que valeu.

 

Publicado por João Adolfo Guerreiro
em 15/03/2018 às 23h27