Esta manhã estive no IEE Assis Chataubriand, em Charqueadas, acompanhando a palestra que o músico Duda Calvin fez aos alunos do Movimento OcupAssis e aos professores estaduais em greve (foto acima).
Duda, membro da banda de punk Tequila Baby, falou de como é viver de arte e a situação da cultura em nosso país, inclusive comentando sobre a recente polêmica da extinção do Ministério da Cultura e da importância que o mesmo tem para a sociedade brasileira. Muito boa a palaestra dele, acompanhado pelo músico Diego Darkie.
Falou de como saiu de Charqueadas para Porto Alegre e tentou a vida na cena do rock gaúcho, conciliando sua busca por espaço artístico com sua atividade de professor de história, profissão que, mais tarde, abandonou para seguir exclusivamente a de músico. No início da carreira, gravavam fitas cassete com seu trabalho e vendiam à dois reais cada para, assim, comprar mais fitas e seguir a distribuição. Chegaram a vender 2.000 fitas.
Interessante ouvir ele discorrer acerca da relação dos músicos com as gravadoras desde 1994, ano em que a Tequila lançou seu primeiro disco, que vendeu 15 mil cópias à época. Fez um histórico da mudança do formato de LP de vinil para CD, do quanto cada músico ganha por CD vendido e do quanto custa cada CD para as gravadoras: de 35 à 45 centavos é o que um artista percebe por CD vendido (Roberto Carlos é o que mais ganha com direito autoral no Brasil) que, por sua vez, custa cerca de 90 centavos para ser produzido em uma fábrica. O custo de 20 a 25 reais de cada CD na loja, portanto, tem embutido vários outros custos, como gravação (em média, 600 horas de estúdio ao custo de 20 reais a hora), mixagem (regulagem do volume dos instrumentos e vozes gravadas), masterização (regulagem das frquências sonoras do CD) e divulgação, etc.
Calvin lembrou que em 1999, ao lançar seu segundo CD (que vendeu 25 mil cópias), de ínício nada aconteceu. Somente em dezembro daquele ano, quando uma pessoa da gravadora resolveu apoiar o trabalho da banda e levá-lo às rádios para divulgar, foi que a coisa embalou. Segundo o artista, hoje as gravadoras (que começaram a falir a partir de 2005), o formato CD e as rádios perderam muito de sua função, eis que o advento da internet alterou toda a relação produção-distribuição-divulgação de música, que passou a circular livre e gratuitamente pelas redes socias virtuais. Além das rádios, outras mídias clássicas, como a impressa, também estão diminuindo sua inserção junto ao publico, ficando apenas a TV como, nesse espaço midiático tradicional, ainda relevante junto ao público, conforme Kalvin.
Duda cantou algumas canções de sua banda acompanhado por Diego Darkie ao violão, sendo que este também é músico com trabalho autoral e, inclusive, apresentou duas de suas composições (muito boas, por sinal) para os presentes.
Falando com professores e alunos deu para ver que o movimento grevista na escola possui uma adesão de cerca de 70% do corpo docente e que o OcupAssis é um movimento doa alunos em apoio à greve, embora não esteja realizando uma ocupação ao molde tradicional, como ocorre em outros estabelecimentos de ensino gaúchos e brasileiros atualmente, trancando o acesso à escola e paralizando as aulas. Não há notícias de outro movimento ou greve nas demais escolas estaduais da cidade.
Fico pensando se, em muito, essa falta de uma adesão mais significativa às greves do magistério não seja a causa de a categoria estar tão desvalorizada do ponto de vista salarial? Todavia, essa não é a lógica que vemos no Assis, onde alunos e professores (foto abaixo) estão unidos em torno de um objetivo comum: valorização da educação e dos profissionais que nela trabalham, coisas que nunca andarão separadas.
O Movimento OcupAssis vem realizando diversas atividades, como a palestra de Duda, no Galpão do Assis. Mais informações na página do Facebook do movimento: https://www.facebook.com/ocupAssis/?pnref=story