As duas balas saíram do revólver calibre 38 com direção certa ao coração do empresário Alexandre Pexe Mendes, 37 anos. Encontraram uma barreira a poucos centímetros do destino: uma caderneta do Grêmio.
O caderno espiral de 96 folhas e capa grossa, ilustrado com o brasão do clube, bloqueou os disparos e salvou a vida do gremista de Uruguaiana.
Ocaso ocorreu no final da manhã de quarta-feira, quando Mendes foi assaltado no cruzamento entre as ruas Presidente Vargas e Marechal Floriano, no centro do município da Fronteira Oeste. Ele voltava para casa em seu Palio, depois de ter passado em dois bancos e de ter sacado R$ 3,8 mil. O dinheiro estava em cima do banco do caroneiro.
Quando reduziu a velocidade para fazer uma curva, um homem de baixa estatura introduziu metade do corpo para dentro do carro pelo lado do motorista, jogando-se sobre Mendes para alcançar o dinheiro no banco ao lado. O assaltante havia descido de uma moto, onde um comparsa esperava.
- Não percebi que estavam me seguindo desde o banco. Quando o homem entrou no meu carro, jurava que era um acidente. Metade do corpo dele ficou dentro do carro e a outra metade ficou na rua. Eu mexi os braços, ele se assustou e apertou o gatilho - diz o empresário.
O assaltante desferiu dois tiros contra o peito da vítima. Protegido pelo caderno de 20 centímetros de comprimentos por 10 de largura, Mendes nada sofreu. O assaltante conseguiu pegar o dinheiro e fugir na carona de seu comparsa, que só observou a ação.
Acreditando estar ferido, o empresário chamou a Brigada Militar. Os policiais constataram que os tiros não haviam perfurado o peito, mas somente a caderneta, que estava guardada no bolso esquerdo da jaqueta de couro. O objeto é companhia certa na hora das transações bancárias do empresário. É usado para anotar entradas e retiradas de dinheiro.
- Agora sou mais gremista do que nunca. Fiquei muito nervoso na hora, pensei na mulher e nos dois filhos. A vida continua. Vou seguir fazendo pessoalmente as transações bancárias da minha firma - afirma o empresário.
Há quatro anos, Mendes sofreu outro assalto, no qual teve o carro alvejado por balas de revólver. A polícia ainda não localizou os autores.
Para o instrutor de tiro da Brigada Militar de Uruguaiana, o capitão Rinaldo Castro, Mendes teve muita sorte. Ele acredita que a munição usada estava velha ou mal armazenada, o que reduziu o impacto do projétil.
- Normalmente, um tiro dado a essa distância (menos de um metro) teria perfurado o caderno - diz Castro.
( marina.lopes@zerohora.com.br )
MARINA LOPES | Uruguaiana/Correspondente