05/02/2008 23h24
Carnaval Charqueadas 2008
A foto acima é do desfile da Escola de Sambra Brotinhos do ano passado.
Esse ano a coisa estava muito boa, como já havia falado no texto anterior.
Buenas, na segunda-feira assisti ao desfiles das escolas de samba daqui de Charqueadas. Foram cinco, pela ordem: Brotinhos, Terceira Idade, Sol do Amanhã, Verde e Rosa e São Miguel. Finalizando, o bloco Tribu's passou pela avenida.
Não havia tanta gente como no domingo olhando os desfiles, mas as entidades estavam com muito pique. Claro, o carnaval de Charqueadas é básico e pequeno, compativel ao de uma cidade de 30 mil habitantes, mas diverte e encanta muito a quem o assite.
Em 2005 o carnaval estava ruim, pois só desfilou a Brotinhos (que participou sempre, todos os anos, desde a década de sessenta) e as demais entidades eram blocos, que colocavam apenas cd's com música e passavam "bebemorando" pela avenida. Nada contra, aliás, tudo a favor da diversão do pessoal, mas o problema é que a prefeitura dava auxílio financeiro tanto aos blocos quanto à escola. Se não me falha a memória, eram 2.700 reais para a Brotinhos e 800 reais para cada bloco. Mas a prefeitura não exigia nada em contrapartida.
Como eu fazia parte do Conselho Municipal de Cultura nessa época, a gente discutiu isso lá, que estava errado. Então a Secretaria de Cultura, na época em que era o Marco Castilho o secretário, começou a estabelecer para 2006 um valor maior de incentivo, desde que as entidades cumprissem alguns critérios, como ter samba enredo, tema, dois carros alegóricos, fantasias e bateria. Daí acoisa começou a fluir e só cresceu em 2007 e nesse ano, com a prefeitura também evoluindo na organização do evento, melhorando-o ano a ano.
Tanto isso deu certo que o Bloco Tia Tufina apareceu em 2006, virou escola em 2007 e esse ano não partucipou do carnaval da cidade, pois foi contratada para se apresentar em Triunfo, cidade de nossa região onde a prefeitura nada em $$$$ (tem uma baita receita devido ao pólo petroquímico estar situado na cidade).
Nesse ano também ressurgiu a Verde e Rosa, escola de samba que estava desativada há 10 anos e teve um passado significativo em outros carnavais.
O poder público, com inteligência, planejamento e organização consegue tanto promover a cultura para os seus cidadãos quanto ativar a economia e o turismo cultural. Vem bastante gente de outras cidades pra Charqueadas.
O inusitado deste ano aconteceu por conta do baile da escolha da rainha do carnaval. Depois do baile declararam uma vencedora. No outro dia, verificaram que somaram errado as planinlhas e que a candidata vencedora era outra. Daí uma solução politica: o carnaval de Charqueadas tem duas rainhas , eh eh eh. Acontece, mas como diz a Fúria do Tempo naquela música: "E tudo é festa gurizada, oh oh oh oh!'
Creio que esses problemas não são nada, visto que Charqueadas tem uma vida cultural ativa, pois tem uma classe cultural atuante, que pressiona e questiona o poder público. Aqui temos uma Secretaria de Cultura, ao passo que em outros municípios da região a Cultura é mero departamento atrelado à Educação. O que é um tremendo equívoco administrativo, ao meu ver.
Mas sabe como é, se os produtores culturais do interior não pressionam o poder público, as administrações só ficam gastando $$ pagando artistas de fora para vir na cidade participar dos famigerados "eventos" festivos e culturais e não fomentam os artistas locais. Aqui em Charqueadas temos uma noção clara desse fato e sempre estamos em cima.
Por exemlo, ter uma Secretaria de Cultura nessa administração foi uma luta política na formação do governo, pois queriam iniciar o mesmo com ela... atrelada à Edução ou como um "departamento de eventos" ligado ao gabinete do prefeito. A força dos produtores culturais não deixou, visto que na administração anterior tal equívoco já havia sido cometido nos dois últimos anos.
Um outro ponto interessante é que o Conselho Municipal de Cultura de Charqueadas possui 12 menbros titulares, sendo apenas 2 indicados pelo poder público. É um outro avanço que tem o dedo dos produtores culturais, especialmente do então secretário de Cultura (1998) Manoel Henrique Paulo. Na Conferência Estadual de Cultura realizada em 2006, vimos que a maioria dos municípios não tem conselho e, dos que existem, a maioria é paritário, ou seja, metade indicada pela prefeitura e metade eleita pelos segmentos culturais. Assim, é só o poder público cooptar um conselheiro eleito e fica com maioria, podendo "aplicar" sua poítica cultural sobre a comunidade cultural. Isso não acontece em Charqueadas, ou melhor, é bem mais difícil de acontecer.
Nesse quadriênio adm inistrativo em andamento arrancamos na luta um Fundo Municipal de Cultura e uma Agenda Cultural do Município, que contrempla em lei o fomento aos vários segmentos locais, como música, literatura, artes plásticas, tradicionalismo, teatro, artesanato, etc.
Aqui em Charqueadas temos três eventos que consomem muito do $$$ do Orçamento da Cultura: O Rodeio (início de março), o Carnaval e a Gincana (final de março) de aniversário do Município. Mas claro que a cultura deve ter uma visão mais ampla do que a realização desses "eventos" festivos, por mais importantes que sejam para a comunidade.
Estamos também na briga pela construção de uma Casa de Cultura, promessa de campanha do atual prefeito que ainda não saiu do papel. Aliás, essa é uma novela que se arrasta desde 2000 e que gerou uma briga politica e juríca na cidade,envolvendo o atual prefeito e o anterior. Nem vou entrar nesse assunto aqui, o que interessa é que desde 2000 aguardamos que a Casa de Cultura saia das fundações.
No ano passado o prefeito queria realizar emendas no Orçamento do Município tirando verbas da Casa pra colocar em outras rúbricas. A classe cultural não aceitou, foi à imprensa e derrubou os projetos no Legislativo,
Mas agora, pouco antes do carnaval, foram os vereadores que fizeram emendas e tiraram $$$ do orçamento previsto para a Cultura. Foi uma bola nas costas da classe cultural. Até onde já apurei, aconteceu que o prefeito encurtou o orçamento do Legislativo e eles fizeram várias emendas ao Orçamento do Município, dentre elas algumas tirando 115 mil reais da Cultura.
O prefeito, então, vetou todas as outras emendas, exceto às da.. Cultura. E os vereadores aceitaram!!! Foi uma verdadeira bola nas costas. Agora, não se sabe quem é pior, se o prefeito ou se os vereadores.
Mas o que que tudo isso tem a ver com carnaval? Ora, nada é por acaso, e toda a cultura de um município é fruto de um contexto social, cultural, político e administrativo. Se em 2005 não tivesse acontecido nenhum debate e pressão, certamente ainda teríamos aquele tipo de carnaval, só que medonhamente ampliado, com certeza.
"O pior analfabeto é o analfabeto político" - Brecht.
Publicado por João Adolfo Guerreiro
em 05/02/2008 às 23h24