João Adolfo Guerreiro
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A morte do agente penitenciário

As madrugadas são companheiras dos agentes penitenciários, que trabalham em turnos de 24 horas, seja inverno ou verão. Companheiras traiçoeiras, acentue-se, pois é quando os galos cantam que tentativas de fuga e "botes" em escoltas são mais frequentes. Embora seja lugar-comum, falar que a noite é inimiga dos que zelam pela luz da justiça e da segurança é fato.

Acordamos nesta manhã com a notícia da morte de um agente penitenciário de 54 anos em Caxias do Sul, às três da madrugada. Um engodo comum e, por isso mesmo, perigoso, pois pode funcionar, como hoje: o preso finge doença para ser levado ao médico, onde seus comparsas planejam regatá-lo. Duas profissionais de saúde e outro agente, de 42 anos, foram feridos, o último com gravidade.

Mais uma morte num tempo de tanta morte por doença e por violência. Profissionais como os da segurança e da saúde não morrem em serviço, simplesmente, mas, sim, literalmente, tombam em combate, pois seu ofício é de risco constante no enfrentamento de inimigos, a saber, criminosos e patógenos. Você pode (e tem mesmo de) fechar, por exemplo, escolas durante uma pandemia, mas não tem como fechar um hospital, uma delegacia, um quartel ou uma penitenciária. Logo, tais profissionais agregam o risco sanitário aos riscos específicos de suas atividades, inclusive sendo vitimados pela pandemia. Existem outras profissões e atividades essenciais sob risco, bem sei, mas fiquemos nessas, devido ao fato em tela nessa crônica.

Acordamos com a notícia da morte do agente penitenciário. Charqueadas é uma cidade de muitos profissionais de segurança pública e, principalmente, de agentes e demais servidores penitenciários. Muitas famílias, por décadas, são ligadas ao sistema penitenciário, passando o serviço de avós, pais e mães para filhos e netos. Como mineiros e metalúrgicos, formam uma categoria profissional tradicional na história da cidade, que a caracteriza. Logo, uma notícia dessas repercute em corações e mentes locais, pela relação e familiaridade laboral.

Um homem da segurança pública, agente penitenciário, tombou em nome da lei e da sociedade nesta madrugada. Os profissionais de saúde são o limite entre a morte e a vida, entre o desespero e o alívio; os da segurança pública, o limite entre a segurança e o medo, entre a civilidade e a barbárie, garantidores que são do Estado Democrático de Direito. Os agentes penitenciários fazem parte desse grupo. Um deles tombou. A sociedade está de luto.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 07/06/2021
Alterado em 07/06/2021
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