João Adolfo Guerreiro
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Brasil perde aliado da vida contra o negacionismo

A repercussão da doença do prefeito de São Paulo Bruno Covas coincidiu com o início da pandemia que ele, como chefe da mais importante capital brasileira, ajudou a combater. Devemos muito, nós brasileiros, à prefeitura paulista, ao Estado de São Paulo e ao Butantan pela liderança na adoção de medidas de distanciamento social e pela vacina para o combate à pandemia. A morte de Bruno, ontem, foi uma grande perda nesse momento em que urge somar forças pela manutenção da vida humana como prioridade, contrapondo-se ao fundamentalismo negacionista de cunho economicista que a secundariza.

Após as reformas liberais que foram aprovadas no Brasil a partir de 2016 - terceirização, trabalhista, Previdência e PEC do Congelamento (ou da Morte) -, com o grande retrocesso de saúde, educação, remuneração, direitos e empregabilidade que os assalariados já vivenciam, a sobrevivência física passa a ser a grande necessidade, sobre todas as outras. Assim, hoje, a política nacional se divide entre os que defendem a vida humana como prioridade, os que a secundarizam e os que gravitam em torno dessas duas posições. Sem vida não há salário, não há direito e não há emprego. O lado de Bruno era, insofismavelmente, o da vida, mesmo que ele, quando deputado federal, - e seu partido - tenham apoiado essa agenda liberal. A unidade hoje, todavia, insisto, está urgindo para além das demandas econômicas, classistas e sociais, devido ao espectro da morte que ronda os estratos mais fragilizados de nossa população. A vida está acima de tudo, o resto pode esperar por momento favorável.

Nesse sentido, foi muito bom ver a eleição municipal de 2020 em São Paulo ser disputada pela centro-direita (Bruno PSDB) e pela esquerda (Boulos PSol), pois isso expressou, naquele representativo e simbólico colégio eleitoral, que a população já caminha por esse entendimento pró vida, refutando sua "flexibilização" por qualquer outro interesse. A vitória de Bruno foi a consolidação dessa linha de governo ante à pandemia que enfrentamos, mas, sobretudo, a própria ausência de candidato alinhado com a extrema-direita fundamentalista e negacionista no segundo turno foi alentadora.

Politizo ao falar sobre a morte de Bruno Covas porque isso faz parte de seu legado político, por ele mesmo ressaltado recentemente. "O negacionismo está com os dias contados. Prevalecerá o diálogo, a conversa, a construção coletiva, a compreensão de que há mais em comum entre nós do que as visões distintas que nos separam... No caso da pandemia, o inimigo é um só: o vírus. O momento exige união. O vírus do ódio e a intolerância precisam ser banidos da sociedade. A crise social e econômica decorrente da pandemia são profundas. Por isso, é fundamental conversar de forma generosa e aceitar as diferenças. (...). Política não é terreno para intolerantes e nem para lacradores de redes sociais. Política é a arte do fazer junto, de construir pontes para o futuro, de superar a divergência cega dos que acreditam que a solução virá dos extremos. Está provado que não e as urnas deram um recado de moderação muito claro" - disse, em sua posse em janeiro de 2021.

Reafirmou isso em sua última carta, dia 14 de maio, dois dias antes de falecer: "A pandemia da Covid-19 tem cobrado um preço caro dos brasileiros e vamos caminhando para contabilizar 430 mil mortos. Uma tragédia sem precedentes que já deixa e vai deixar muitas marcas na nossa história. As consequências são catastróficas: vidas interrompidas, famílias em sofrimento, negócios em dificuldade, desemprego, pobreza e, lamentavelmente, a fome. Faço esse preâmbulo pois é exatamente sobre o que se trata o dia de hoje: política. A solução para nossos problemas só será enfrentada pela via da política, pela via democrática, pela seriedade com que os governos trabalham e realizam políticas públicas. (...) Em contraposição ao governo federal, que vem desdenhando da vida e da saúde dos brasileiros ao longo da pandemia, o PSDB de São Paulo e seus aliados vêm demonstrando na prática aquilo que é sua vocação: responsabilidade pública, colocar a população, sobretudo a mais pobre, em primeiro lugar, cuidar de gente, fazer um trabalho técnico e baseado em evidências e na ciência, tomar atitudes difíceis e enfrentar as adversidades sempre com respeito, dignidade e defendendo a democracia".

Bruno passou por esse plano físico, fez política, venceu as eleições que disputou e, mesmo falecendo aos 41 anos (1), deixou seu legado. Todos nós, que defendemos no Brasil e no mundo a sacralidade da vida humana como valor inflexível, devemos dizer obrigado a ele por isso, por fazer a diferença que importa nesse período histórico.


(1) - Além da questão política, a morte de Bruno Covas é, também, a perda familiar. Covas postou muitas fotos de seu filho, de 15 anos, junto a ele, durante a convalescença. Meu avô materno faleceu com a mesma idade em 1958, quando minha mãe, a filha mais velha, tinha 14. Ela às vezes ainda fala disso, do que representou perder o pai com essa idade, da dificuldade que foi para ela.
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 17/05/2021
Alterado em 17/05/2021
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