Quando os farroupilhas entraram em Porto Alegre na manhã de 20 de setembro de 1835, praticamente não encontraram resistência, pois tudo havia se definido numa escaramuça ocorrida na noite anterior, entre os dias 19 e 20, naquele que ficou conhecido como o Combate da Ponte da Azenha, retratado em 1923 pelo pintor Augusto Luiz de Freitas (imagem acima).
No dia 19, os revoltosos contavam com uma tropa de cerca de 200 homens estacionadas nas cercanias de Porto Alegre, enquanto o presidente provincial Antônio Braga havia reunido, entre militares e voluntários, cerca de 270, divididos na defesa do Palácio do Governo, do quartel da Guarda Municipal e do Trem de Guerra (arsenal). Um contingente de 20 homens do lado imperial fazia uma ronda noturna junto a Ponte da Azenha, onde um grupo de 7 batedores revoltosos se encontrava, em vigia. Os imperiais atiraram e os revoltosos revidaram. Supondo se tratar do grosso da tropa farroupilha a invadir a capital, os governistas se retiraram, no que foram perseguidos pelos batedores, resultando em quatro feridos e um morto. E foi só isso, mas serviu para abalar a confiança dos defensores de Porto Alegre.
No dia seguinte, reforçados por mais 300 homens, os rebeldes entraram na capital e a tomaram, praticamente sem encontrar resistência e obtendo a adesão de parte de seus defensores, obrigando Braga a fugir para Rio Grande, cidade que permaneceria leal ao Império Brasileiro durante os dez anos do conflito. Aliás, as grandes cidades gaúchas, como ela e Pelotas, nunca aderiram aos farrapos. Mesmo Porto Alegre, em 14 de junho de 1836, seria retomada pelos imperiais, com forte apoio da população local. Seguiu-se um cerco farroupilha à capital que duraria quatro anos, sem obter sucesso. Por essa resistência, o imperador Dom Pedro II daria à Porto Alegre em 1841 o título (grafia da época) de "Mui leal e valerosa cidade", que se encontra até hoje no brasão do município.
Logo, não deixa de ser irônico que onde hoje as festividades no feriado estadual do 20 de Setembro (desde 1995), alusivos à "Revolução" Farroupilha, são centralizados e mais fortes, sejam justamente em Porto Alegre, com um grande desfile e com a instalação do Acampamento Farroupilha, ignorando completamente a memória daqueles que a defenderam com sucesso por quase 1200 dias, no passado, durante o calor dos acontecimentos. Ou seja, os rebeldes só tomaram Porto Alegre mais de um século depois,simbólica e culturalmente, sobrepujando ao esquecimento histórico os imperiais portoalegrenses numa Guerra dos Farrapos onde, como diz o historiador e jornalista Eduardo "Peninha" Bueno, "os gaúchos perderam, fingem que empataram e festejam como se tivessem vencido".
Aliás, essa versão pró-farroupilhas da história acontreceria no Rio Grande do Sul mais de 50 anos depois, durante o período em que o estado seria controlado pelos positivistas do Partido Republicano Brasileiro, após a Proclamação da República no Brasil, em 1889, sob liderança de Júlio de Castilhos e Borges de Medeiros. Os festejos só iniciariam a partir de 1935, com Getúlio Vargas, e o feriado, vimos acima, em 1995. Entretanto, essa é uma história a ser contada em outro texto, qualquer dia desses.
PS - Mas, se alguém desejar um aprofundamento hoje, deixo abaixo três vídeos extremamente bem humorados do Peninha sobre o tema, de seu canal do You Tube Buenas ideias:
O hino do Rio Grande do Sul PS - ressalto que entendo ter o hino uma parte racista.