João Adolfo Guerreiro
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Reforma Trabalhista: café amargo
 
Charqueadas, 11 de julho de 2017, 19h49min. Nunca mais vou esquecer este dia, de onde estava no momento em que o Senado Federal aprovou, por 50 votos a 26, a reforma trabalhista: numa cafeteria, sentado com minha família. As pessoas assistiam a uma novela pelo televisor do estabelecimento, aparentemente alheias ao que acontecia em Brasília...

Em tempo recorde de tramitação no Congresso Nacional, conquistas obtidas em cem anos de lutas e mobilizações dos assalariados brasileiros, à custa de muito sacrifício e de muitas vidas, desde a greve geral de 1917 e passando pela criação da CLT em 1943, foram quase que totalmente varridas da legislação. Pouca coisa sobrou. Foi tanta coisa suprimida quem nem cabe aqui nesse artigo. E, agora, não é preciso enumerá-las, pois as pessoas irão vivenciá-las no seu cotidiano, pelas décadas vindouras.

O jornalista Juremir Machado da Silva resumiu muito bem em seu blog: “Getúlio Vargas acaba de ser assassinado por 50 senadores. Mandante: mercado. Cúmplice: mídia”. Ele se referia ao presidente gaúcho que criou a CLT. Percebemos em sua síntese que, por trás de tudo o que está acontecendo, vemos as mão$ dos grandes empresário$ brasileiros, os vencedores de terça-feira, plenamente atendidos em seus interesse$. Uma grande vitória, uma vitória histórica, que repercutirá por muitos anos. Inversamente, é uma derrota tremenda e sem precedentes para quem vive de salário, estejam cientes ou não disso.

Todavia, me pergunto: como os assalariados puderam aceitar essa reforma? A verdade é que, mesmo com as pesquisas de opinião indicando ser a maior parte da população contrária à reforma, os protestos contra ela não tiveram a magnitude necessária. E vejam que foi uma reforma não referendada pelo resultado da eleição presidencial de 2014, proposta açodadamente por um governo imerso em denúncias de corrupção, por um presidente indiciado por corrupção passiva pela PGR e, no Senado, relatada por Romero Jucá (PMDB), igualmente citado na Lava Jato e flagrado num escandaloso diálogo telefônico com o ex-presidente da Transpetro, Sérgio Machado. Ou seja: as credenciais dos defensores da reforma eram as piores possíveis.

Mas tudo isso é passado. O fato é que ela foi aprovada e é, neste momento, o futuro. E que os trabalhadores não tiverem lucidez política e econômica para se opor. Ela é, logo, parte de uma colheita maldita, posterior à PEC do Congelamento (que limitou gastos em saúde, educação e salário) e a terceirização e, ao que tudo indica, anterior a reforma da Previdência, em trâmite na Câmara dos Deputados.

Pensava em todas essas coisas enquanto, silencioso, mexia o café na xícara com a colher, misturando o adoçante. Observei os jovens ao redor, entristecido por eles. A maioria, atuais e futuros assalariados, vai tomar um café ralo, puro e amargo daqui por diante, sem açúcar ou adoçante.

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VOTOS – Como votaram os senadores gaúchos: Paulo Paim (PT), contrário; Ana Amélia (PP) e Lasier Martins (PSD), favoráveis. O voto por bancadas foi: Contra – PT (9), PMDB (4), PSB (4), PCdoB (1), PDT (1), PSD (1), PSDB (1), PTB (1), PTC (1), PV (1), Rede (1); A favor – PMDB (16), PSDB (10), PP (7), PR (4), PSD (4), DEM  (3), PRB (2), PPS (1), PSB (1), PSC (1) e PTB (1).
 
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 13/07/2017
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