João Adolfo Guerreiro
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Dilma, FCH, os militares e a Sociologia no ensino médio

Não fui o único a ficar surpreso quando a presidente Dilma, em 22 de setembro do ano passado, durante entrevista como candidata à reeleição concedida ao jornal Bom Dia Brasil, da Globo, falou sobre reforma curricular e afirmou: “o jovem do ensino médio, ele não pode ficar com 12 matérias, incluindo nas 12 matérias Filosofia e Sociologia. Tenho nada contra Filosofia e Sociologia, mas um curriculum com 12 matérias não atrai o jovem”. E o motivo da surpresa foi devido a ter sido justamente durante o segundo mandato do presidente Lula, em 2008, que o retorno das disciplinas de Sociologia e Filosofia foi efetivado.

Sendo mais preciso: embora tenha sido uma decisão de governo, quem assinou a lei foi o vice-presidente José Alencar, que estava em exercício no cargo. Assim, ficou a estranheza política quanto a fala da candidata que, com isso, ironicamente, se aproximou de uma igualmente surpreendente decisão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso...

Em 1997, o então deputado federal Padre Roque, do PT, protocolou na Câmara dos Deputados um projeto estabelecendo o retorno das disciplinas ao ensino médio. O mesmo foi aprovado por unanimidade na Câmara e, em setembro de 2001, por 40 votos a 20, no Senado Federal. Então, em 8 de outubro, o inesperado: o presidente FHC, um dos mais importantes e conhecidos sociólogos brasileiros dentro e fora do país, vetou o projeto, alegando, dentre outras coisas, não haver professores da área em número suficiente para suprir tal demanda. Logo, é interessante notar que, por um lado, foi durante o governo de um ex-metalúrgico com baixa escolaridade e de um vice empresário que a Sociologia foi reconduzida, após 42 anos de ausência, ao currículo do ensino médio e, insolitamente, por outro lado, vetada por um sociólogo e colocada em questão por uma economista.

Entretanto, existem mais acontecimentos curiosos nessa história: FHC e Dilma possuem em comum, em suas biografias políticas, o fato de terem sido perseguidos pela Ditadura Militar. Os militares, por sua vez, quando chegaram ao poder, em 1964, baniram a Sociologia (e a Filosofia) do ensino médio, restringindo-a apenas às universidades. Em seu lugar, colocaram as disciplinas de Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira (OSPB). Mais uma vez é interessante perceber, no caso da postura para com a Sociologia, essa similaridade de posição entre opostos tão díspares ideologicamente.

Agora em 2015 a Sociologia completa 90 anos de presença intermitente no currículo da educação básica brasileira. Em 1925, com a Reforma Rocha Vaz, a Sociologia foi oficialmente inserida como disciplina obrigatória nas escolas secundárias. Antes disso, em 1891, Benjamin Constant assumiu o Ministério da Instrução Pública e de Correios e Telégrafos e tomou a iniciativa de determinar a inclusão da Sociologia no ensino médio, mas, na época da implantação dos currículos, veio a falecer e a proposta não foi levada adiante.

De 17 a 19 de julho aconteceu, na Unisinos, o 4º Encontro Nacional de Ensino de Sociologia na Educação Básica - ENESEB, promovido pela Sociedade Brasileira de Sociologia. Durante a última mesa redonda realizada no ENESEB, no domingo à noite, o representante do Ministério da Educação Ricardo Dias Cardoso, falando em nome do ministro Renato Janine Ribeiro, foi taxativo: “não será retirada, na atual gestão, nenhuma disciplina do currículo do ensino médio”. Resta conferir se a decisão do ministro, bem ao espírito do governo Lula, implica numa reconsideração da atual presidente...


Texto publicado na seção de Opinião do jornal Portal de Notícias: http://www.portaldenoticias.com.br
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 24/07/2015
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