João Adolfo Guerreiro
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(Na foto acima, Alberto André cantando em festival na Ulbra SJ, em 2003.)

Alberto André

O texto abaixo saiu no Jornal Portal de Notícias na sexta-feira passada. Muito bom, fala do compositor e cantor charqueadense Alberto André. Reproduzo aqui pra vocês com autorização do jornalista Rodrigo Ramazzini.



Com mais de 30 anos de carreira, os altos e baixos da trajetória do músico Alberto André


A lenda 

Por Rodrigo Ramazzini  (Jornal Portal de otícias)

São 15 horas e três minutos de um sábado chuvoso. Com um caminhar lento e com estilo, ele chega à praça de alimentação do Solar Shopping, em Charqueadas, para o que resultaria em uma longa conversa repleta de recordações, reflexões e xícaras de café. Os cabelos brancos e o atual ar tranqüilo escondem a história de alguém que dedicou a vida às notas musicais e aos versos. Com 50 anos de idade e com os dedos das mãos calejados de dedilhar o violão, não há como falar em música na Região sem tocar no nome dele, um dos mais representativos do segmento, nos últimos tempos: Alberto André Pereira.
 A escolha
A música entrou cedo na vida de Alberto André. Os primeiros acordes iniciaram na infância, em meio a rodas de samba nos finais de semana em sua casa ou na residência de amigos, quando o pai lhe fez um pandeiro de lata para batucar em conjunto com os bumbos e violões que animavam as festas.
Apesar desse contato inicial com a música, a chama que acendeu a vontade de ser músico começou a pegar fogo de vez em meados dos anos 70. Depois de não ir à escola por estar com dor de barriga, mas melhorar subitamente para acompanhar um dos irmãos em um ensaio de um grupo musical, o adolescente Alberto André acabou sendo convidado a ingressar como pandeirista do grupo durante o tal ensaio e, meses depois, subiu a um palco pela primeira vez na vida para tocar no extinto baile da Escola de Samba Unidos da Barbicha (ESUB), em Charqueadas. Associado a esse fato, o sucesso mundial dos Beatles, à época, dos quais é fã declarado e, após assistir a um show dos gaúchos da banda Almôndegas, no Clube Tiradentes, ele não teve mais dúvida.
-Enlouqueci! Era com certeza o que eu queria pra mim também. Eu queria ser músico!, relembra com entusiasmo.
 A trajetória
Depois dessa primeira experiência no mundo da música, no decorrer dos anos seguintes Alberto André funda com amigos um grupo de samba, que lhe proporcionou mostrar, pela primeira vez, uma composição de sua autoria em um festival, intitulada “Samba é o nosso chão”. O nome do grupo: Volantins do Samba.
Mas foi nos anos 80 que a carreira começou a deslanchar e atingiu o ponto mais alto. Com o grupo “Voz Ativa”, gravou o primeiro disco da carreira, tocou em todos os municípios da região e em várias cidades do Estado. No entanto, o ápice do sucesso aconteceu quando o grupo foi levado a participar dos programas Fantástico e Galpão Crioulo, da RBS TV. A partir daí, iniciou-se uma intensa inserção no mundo da televisão, com participações em programas das emissoras Guaíba, Pampa e Bandeirantes. Foram quase dois anos colhendo os frutos do sucesso televisivo. Mesmo assim, o Voz Ativa chegou ao fim em 1985.
Com o término do grupo, o caminho optado por Alberto André foi partir para uma carreira solo, apostando em parcerias, na voz e no violão. Desde então, até hoje foram decorridos mais de 20 anos de uma trajetória dedicada a música, fazendo apresentações em shows e bares pela região, sendo que, nos últimos oitos anos, quase que exclusivamente na Pizzaria 6 Formas, em Charqueadas. Dessa duradoura união com a música nasceram mais “três filhos”: o LP “Íntimo”, gravado com a Banda Luz, no início dos anos 90, o CD “Outros Tempos”, em parceria com Luciano Souza, em 1998, e o último trabalho, intitulado “Bem Simples”, o qual considera “mais parecido com a sua cara”, lançado nos últimos anos, em companhia do amigo João Guerreiro. 
Falta de oportunidades e ousadia
Com dezenas de músicas compostas, mas com uma estranha timidez em mostrá-las ao público, de forma antagônica à lógica que rege a busca de reconhecimento pelo trabalho realizado, principalmente no âmbito artístico, em meio a um ar de constrangimento e sentimentos contraditórios, ele confidencia o motivo.
- O que eu faço me parece algo muito simples. Então, gosto de mostrar as minhas músicas em festivais e não em minhas apresentações. Considero os festivais o momento certo de apresentar as minhas composições. São os momentos das minhas músicas! -, justifica, deixando escapar uma pontinha de ressentimento por não ser mais valorizado pela produção musical.
Repassando os capítulos da sua história e pelo talento para cantar e compor, era de projetar que a carreira iria mais longe. Em um tom de resignação, depois de refletir um pouco, com olhos para baixo, Alberto André acaba constatando o que faltou para ir além.
- Faltaram melhores oportunidades, mas também mais ousadia-, confessa o músico.
Futuro
Adepto do jogo de Futevôlei nas horas vagas, nem a prática do esporte lhe acalmou os ânimos há alguns meses, quando a mãe ficou doente e a pizzaria ameaçou parar de funcionar. Foi então que a música, por outros caminhos, abriu-lhe mais uma porta: ser professor de violão. Convidado pela presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Charqueadas a dar aulas na sede da entidade, a idéia prosperou mais do que o esperado.
- Hoje tenho mais de trinta alunos-, conta Alberto André, com um orgulhoso sorriso no rosto e nutrindo um sentimento de gratidão com o Sindicato pela oportunidade. 
O novo desafio trouxe consigo as boas notícias da melhora no estado de saúde da mãe e a troca da direção da pizzaria. Apesar dos bons ventos, o tempo de carreira e a falta de reconhecimento pelo trabalho, deixam escapar certo cansaço e desânimo com a atividade.
-Por mim, parava uns dois anos de tocar, mas não dá... -, confidencia.
Entretanto, caindo em contradição sobre seus sentimentos de novo, conta, ressaltando que está apenas em fase de estudos, que está idealizando reeditar a parceria com o músico João Guerreiro, na gravação de um DVD em um estilo bem intimista. E, em meio a gargalhadas, em uma projeção de alcançar o tão almejado sucesso novamente no futuro, demonstra otimismo ao se comparar a um ídolo da MPB que começou a carreira na década de 60, entrou em ostracismo nos anos 70 e ressurgiu no início dos anos 90:
- Só se eu for um novo Tom Zé! – diz, em tom de brincadeira.
Esses traços de contradições e inseguranças na personalidade são tranquilamente percebidos por ele próprio ao fazer uma auto-análise de quem é Alberto André.
- O mesmo cara inseguro dos 15 anos, agora com 50 - resume-se rindo, esquecendo de destacar o talento para a música.
Depois de relembrar tantos momentos e refletir sobre a própria vida, Alberto André pergunta a hora. São 18 horas e trinta minutos. O relógio indica que deve partir. A pizzaria 6 formas lhe espera para mais uma apresentação em poucas horas. Ele se despede e deixa o Shopping em silêncio.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 09/08/2010
Alterado em 09/08/2010
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