João Adolfo Guerreiro
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A TODO VOLUME

Três guitarristas de gerações diferentes: o inglês Jimmy Page, anos 60 e 70, do Led Zeppelin; o irlandês The Edge, anos 80 e 90, do U2; e o americano Jack White, anos 90 e 2000, do White Stripes. Direçao e roteiro de Davis Guggenheim, 2008,EUA. 97 minutos.

Foto: White, The Edge e Page.

Tive o prazer de ver esse documentário no cinema, no recente feriado de Tiradentes. Olha, pra quem gosta de guitarra, é um prato cheio. Foram escolhidos três guitarristas de períodos diferentes para ir dando um panorama do que é tocar guitarra: Jimmy Page, inglês, do antológico e paradigmático grupo Led Zeppelin, que atuou nos anos 60 e 70; The Edge, irlandês, do U2, da escola dos anos 80 e 90; Jack White, americano, do White Stripes, dos anos 90 e 2000.

O documentário reúne os três guitarristas pra tocar guitarra e bater um papo e, concomitante a isso, vai fazendo um histórico das raízes musicais dos mesmos, de sua história e do seu processo de criação. Bem legal a sistemática.

“A Todo o Volume” não traz os guitarristas virtuosos a la Satriani, Vai, Malmsteen, dentre outros, ligados ao som mais pesado, nem tampouco caras de jazz. Fica na linha pop e hard rock, mas eu devo dizer, como guitarrista amador, que a escolha da amostra utilizada foi inteligente, pois os caras estavam numa linha hard rock e pop rock importante, um metaleiro ou um jazzmaster ali não colaria legal. Questão de gosto e opção, sem desmerecer outros mestres que poderiam muito bem estar no documentário.

Jimmy Page eu já conhecia por demais tudo referente a ele, é o meu guitarrista predileto e sou um admirador de Led Zeppelin, tenho muito material sobre a banda e estudo o jeito de Jimmy tocar a muito tempo. Valeu por algumas imagens e fotos que o documentário trazia. Aliás, o grande motivo de eu ir ver o documentário foi por ele estar presente.

The Edge eu também conheço o estilo, ele trouxe um jeito inovador de tocar guitarra, com bases estonteantes e requintadas e com poucos solos. Mas sobre o processo criativo dele eu ignorava muita coisa, então tudo o que vi foi novidade, principalmente como ele trabalha o seu arsenal tecnológico, principalmente o uso dos delays com função harmônica na música, sua abordagem de acordes e a complexa busca por timbres e efeitos.

Mas o que mais me impressionou foi White. Primeiramente, deixa eu dizer que deu pra perceber que o cara é um baita artista, um talento enorme e que isso se transfere pra sua abordagem na guitarra. Olha, eu nunca me liguei no som desse cara, mas a partir do documentário, vou passar a furungar a sua obra musical. É impagável por exemplo a cena dele tocando numa guitarra artesanal que ele faz com arame e pregos, num pedaço de madeira, tocando-a com slide. O cara é muito musical, chega a encantar.

Comparando os guitarristas, Jimmy é naturalmente dos primórdios do rock, naquele negócio mais de guitarra e amplificador; The Edge o cara da tecnologia e White um purista radical a serviço da arte enquanto expressão emotiva por concepção. Page pareceu ser o mais simpático dos três, estava bem a vontade conversando com os outros dois, um cara com muita cultura. The Edge o mais quieto e racional. White o maluco beleza, mas um tanto estranho também, meio desconfiado e pouco á vontade, sei lá, talvez por não ser propriamente um “guitarrista”.

Outra coisa interessante é uma diferença de concepção que surge: The Edge fala da abordagem da canção do U2, sem longo solos ao vivo, tocando a canção como no CD em respeito ao público, criticando aquela coisa anos 60 e 70 de mudar a música ao vivo e introduzir longos solos instrumentais. Jimmy Page era bem conhecido por isso e, na hora que os três estavam juntos, esse assunto não veio a baila. Nesse ponto, o experimentalismo e purista do trabalho de White está mais próximo do trabalho de Page, até por ter uma influência comum no trabalho dos blues americanos

No documentário, a gente fica sabendo também das guitarras preferidas dos caras. Curioso ver que a primeira guita de Page foi uma Fender Stratocaster, ele que ficou conhecido pelo uso sistemático de Gibsons. Só vi Page de stratocaster tocando In The Evening no DVD de Knebworth de 1979. Ele usava além das Gibson uma Danelectro e, coisa que pouca gente sabe, no primeiro disco do Led ele usou uma Fender Telecaster o tempo todo. Mas foi curioso ele falar dessa fender que eu não sabia que tinha sido a primeira guita dele.

The Edge mostrou uma Gibson Explorer que ele comprou numa loja em Dublin e que foi sua primeira guitarra usada nos início do U2.

Já White, bem ao seu estilo, aparecia com uma velha guitarra de madeira toda quebrada (repare bem na foto abaixo) que ele foi usando e ajustando, que havia ganho por pagamento quando fez um carreto pra um amigo. Mostrou também a sua guitarra vermelha de material plástico, que ele comprou numa loja comum e que usa até hoje. O cara é muito maluco, ele usa essas guitas detonadas pra ser exigido mais pelo instrumento e, assim, aprimorar a sua musicalidade. Olha, eu fiquei impressionado com o talento e a coerência artística desse cara. Um baita artista.

Vale a pena ver o documentário, recomendo.

João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 28/04/2010
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