João Adolfo Guerreiro
Descobrindo a verdade/ sem medo de viver/ A liberdade de escolha/ é a fé que faz crescer.
Capa Meu Diário Textos Áudios Fotos Perfil Livros à Venda Livro de Visitas Contato Links
Textos
Cunhado não é parente

Esse é um ditado popular que, embora muito cruel, corresponde a realidade. Principalmente nos dias de hoje, em que o “casa-separa” está liberado pela lei e pelos costumes, ao contrário do que era antigamente.
Mas não dá para rir da situação, pois cunhado todo mundo é, foi ou vai ser. Ninguém escapa. Você vai gozar o seu cunhado mas não deve se esquecer que você é o cunhado dele também, e ele terá os mesmos motivos para te gozar.
Se parente a gente não escolhe, os cunhados pior ainda. Os parentes, pelo menos, já fazem parte da história da família. Cunhado não, cunhado é um agregado recente, aquele a quem tua irmã fez o favor de arrumar uma vaga num galho da árvore genealógica de sua linhagem.
Contudo, eu ia dizendo no início que a instituição “cunhado” está em crise, com o casa-separa de hoje em dia. E afeta também as recordações familiares e dá muito dinheiro aos fotógrafos. Explico.
A sua irmã se separou do marido dela depois de 10 anos de casamento, mais cinco de namoro. Então ela vai te visitar com o Juarez, seu novo marido. Conversa vai, conversa vem, eis que estão em frente a estante, comentando os retratos de família.
- Essa é a foto da formatura da Cristina. Está toda a “família” aqui. Essa de vermelho é a tia Lorena, junto com o tio Jorjão. Essa ruiva gostosinha é a prima Vera. Aqui o pai e a mãe e a Cristina com o Ricardo.
- Ai Eduardo, porque tu não tirou essa foto daí. O Juarez está constrangido.
- Cristina, essa é a única foto que eu tenho da tua formatura em que está toda a família junta. Eu não vou tirar ela daí porque o teu atual marido, quer dizer, o Juarez, vai se incomodar. Ele vai ter que conviver com isso.
- Deixa Cristina, deixa, eu não me incomodo.
- Mas eu não gosto, Juarez.
- Cristina, quem tem que gostar ou não sou eu. A casa é minha. Além do mais, eu considerava muito o Ricardo.
- Isso porque tu não vivia com ele.
- Que injustiça. Ele te ajudou a concluir a faculdade e sempre foi um ótimo genro pro pai e pra mãe. Tu esqueceu quando o pai teve um infarto? Quem foi que correu com ele para baixo e para cima? O Ricardo!
- Isso tudo passou, Eduardo. Eu não ia ficar casada com ele por gratidão.
- Isso mesmo, essa é a realidade do homem. Depois de anos de dedicação, a mulher o larga por “qualquer um”.
- Peraí Eduardo, tu está me ofendendo. Eu não sou “qualquer um”.
- Não foi mesmo, foi o “qualquer quinto”. Mas desculpa, eu não queria te ofender. Só que a foto eu não troco. O Ricardo fica ali. Se resistiu a quatro namorados, vai resistir ao atual marido. Imagina se eu vou reunir a família para bater uma foto toda a vez que a Cristina trocar de marido ou arranjar namorado novo? Vou enriquecer o fotógrafo!
- Eduardo, pare de falar assim da tua irmã que ela não é nenhuma “desfrutável” – meteu-se a mãe. Além do que a foto nem corresponde mais a nossa família. O Jorjão já trocou a Lorena pela manicure aquela faz dois anos. E até foi bom, pois o Jorjão, ao contrário do Ricardo, não vale nada.
Juarez pediu licença para ir no banheiro.
Realmente, cunhado é aquele a quem você nunca emprestaria o carro, nunca convidaria para um churrasco em sua casa e nunca emprestaria dinheiro, caso o cara não fosse o marido da sua irmã ou o irmão da sua mulher. E isso vale para você também, que vive agregado nas costas do seu cunhado.
O cunhado que é irmão da sua mulher é um caso a parte. Teve um namorado da minha irmã que deve ter raiva de mim até hoje. Eu queria aprender a andar de moto e o cara nem aí para mim. Então comecei a ficar na sala olhando TV sempre que ele ia lá em casa, pois a minha mãe não deixava eles namorarem em outro aposento que não lá, com a televisão ligada. O cara ia dar um “atraque” na Roberta e eu gritava: “Olha lá, o mocinho vai matar o bandido!” Então o cara se viu obrigado a me ensinar a andar de moto para me despachar da sala quando estava lá, liberando-me a moto. Claro, depois a gente cresce, arruma namorada e ela também tem um irmão pentelho que nem você foi e que também vai querer andar na tua moto. Realmente, cunhado não é parente. E você sabe disso porque você também é cunhado e sabe o que um cunhado pensa sobre você: tirar proveito.
E a cunhada, é parente? Bom, essa é uma outra história...



Crônicas & Artigos publicados às terças e sextas-feiras no site do jornal Portal de Notíciashttps://www.portaldenoticias.com.br/colunista/53/cronicas-artigos-joao-adolfo-guerreiro/
João Adolfo Guerreiro
Enviado por João Adolfo Guerreiro em 29/04/2006
Alterado em 25/07/2020
Comentários