João Adolfo Guerreiro
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Meu Diário
25/07/2017 10h49
150 ANOS DE "O CAPITAL", DE KARL MARX

Hoje, há 150 anos, em Londres, Marx concluía o prefácio de O Capital, que seria lançado em 14 de setembro de 1867. O prefácio vem com a data de 25 de julho de 1867. O  livro da imagem acima é uma edição brasileira da Bertrand, o Livro I, em dois volumes. Comprei ela no início dos anos 1990, quando estudava Sociologia na Unisinos e trabalhava no Sindimetal Charqueadas. Na verdade o nosso diretório acadêmico (Karl Marx - Lutar para trasformar) fez uma rifa e eu vendi alguns números pro pessoal do sindicato. Um dirigente, que era do PFL, ganhou a rifa. Então comprei o livro dele. O dirigente, tempos depois, filiou-se ao PCdoB, vejam só o que é a vida. Deve ter se arrependido da venda.

Reproduzo abaixo a parte final do prefácio, que acho a mais interessante, visto que explica o motivo da obra ter despertado tantas paixões e ódios:

"Para evitar possíveis mal-entendidos, mais uma palavra. Não pintei a cor-de-rosa as figuras do capitalista e do proprietário fundiário. Mas aqui só se trata de pessoas na medida em que elas são a personificação de categorias económicas, suportes de determinados interesses e relações de classes. O meu ponto de vista, segundo o qual o desenvolvimento da formação económica da sociedade é assimilável à marcha da natureza e à sua história, pode menos que qualquer outro tornar o indivíduo responsável por relações de que socialmente ele é afinal a criatura, por mais que ele se queira libertar delas.

No campo da economia política, a investigação livre e científica encontra muitos mais inimigos do que nos outros campos. A natureza particular do assunto de que trata ergue contra ela e leva para o campo de batalha as paixões mais vivas, mais mesquinhas e mais odiosas do coração humano, todas as fúrias do interesse privado. A Igreja de Inglaterra, por exemplo, perdoará muito mais facilmente um ataque a 38 dos seus 39 artigos de fé do que a 1/39 dos seus rendimentos. Comparado à crítica da velha propriedade, o próprio ateísmo é hoje uma culpa levis. Todavia, é impossível não reconhecer um certo progresso neste aspecto. Basta-me para isso remeter o leitor para o Livro Azul publicado nestas últimas semanas: Correspondence with Her Majesty's Missions Abroad, regarding Industrial Questions and Trade's Unions. Os representantes estrangeiros da coroa inglesa exprimem claramente nesta obra a opinião de que na Alemanha, na França, como em todos os estados civilizados do continente europeu, uma transformação das relações existentes entre o capital e o trabalho é tão sensível e tão inevitável como na Grã-Bretanha. Ao mesmo tempo, do outro lado do Atlântico, o Sr. Wade, vice-presidente dos Estados Unidos da América do Norte, declarava abertamente em várias reuniões públicas, que depois da abolição da escravatura a questão na ordem do dia seria a da transformação das relações do capital e da propriedade fundiária. Tudo isto são sinais dos tempos, que nem mantos de púrpura nem sotainas negras podem ocultar. Não significam, de modo algum, que amanhã vão acontecer milagres; mas mostram que mesmo nas classes sociais dominantes começa a despontar o pressentimento de que a sociedade actual, muito longe de ser um cristal sólido, é um organismo susceptível de mudança e em permanente processo de transformação.

O segundo volume desta obra tratará da circulação do capital (livro II) e das diversas formas que reveste o seu desenvolvimento (livro III). O terceiro e último volume exporá a história da teoria (livro IV).

Qualquer apreciação inspirada numa crítica verdadeiramente científica, é para mim benvinda. Quanto aos preconceitos da chamada opinião pública, à qual nunca fiz concessões, tenho por divisa, agora como sempre, as palavras do grande Florentino:

Segui il tuo corso, e lascia dir le genti! 

Londres, 25 de Julho de 1867.

Karl Marx"

Publicado por João Adolfo Guerreiro
em 25/07/2017 às 10h49